Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Luiz Felipe Lacerda 178 tocentramento narcísico daninho, que subvaloriza as relações e nos impede de perceber para além de nossa própria existência; desencadeando uma ego- latria e uma ruptura da solidariedade intergeracional (FRANCISCO, 2015). No âmbito singular, acabamos por desencadear aquilo que Francisco (2015) chamou de desintegração psicológica ; a falta de profundidade subje- tiva, a incapacidade de autoanálise dos pensamentos e autoexame dos sen- timentos, a ineficiência em colocar-se no lugar do outro (empatia). Viver e sentir fast-food é a máxima da contemporaneidade, onde questões existen- ciais são respondidas com fetiches do mercado e/ou relações virtuais superfi- ciais. O status quo almejado no imaginário social de cada indivíduo prioriza o conteudísmo, a competição, o materialismo, a demanda do mercado de trabalho, enfim, a construção de um Homo Economicus, em detrimento a um Homo Solidaris . Nesse contexto, a tecnologia exerce seu vetor paradigmático, pois, ao mesmo tempo em que conecta as pessoas a aldeia global, também desterrito- rializa a formação da identidade, podendo contraproduzir um já perceptível vazio existencial. Noutrora, a adolescência, por exemplo, sempre foi categorizada como momento existencial de grandes questionamentos e conflitos entre o mundo subjetivo e o mundo objetivo, mas era sempre um fervilhar de múltiplos sentidos. Agora, por sua vez, sua crise existencial se parece mais como um vácuo, um vazio, uma fome de qualquer sentido. Jovens, assim como mui- tos adultos, constituem vínculos pessoais aos mesmos moldes que configu- ram seus vínculos com as coisas (coisificação/mercantilização das relações), achando-se por fim, também descartáveis (FRANKL, 1985; LIPOVET- SKY, 1989; BAUDRILLARD, 1995; DEBORD, 1972). Se no âmbito singular estas características, vetores e paradigmas con- temporâneos afetam diretamente na formação estrutural da subjetividade humana, no âmbito coletivo temos repercussões diretas nas dinâmicas e es- truturas da própria sociedade, na democracia e nas institucionalidades que a sustentam. A deterioração psicológica, o vazio existencial a desterritoria- lização indenitária e a egolatria nos impedem de avançarmos em direção a formas mais plenas de democracia, apresentando inclusive, por vezes, riscos de retrocessos no campo dos direitos humanos e sociais. A polarização que se apresenta no Brasil, desde 2012, pelo menos, evi- dentemente transcendeu a arena política ou partidária e expôs, efetivamen- te, uma sociedade dividida entre pessoas com concepções diacrônicas sobre

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