Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
O diálogo entre teologia, ciência e cosmologia indígena, a partir do conceito de “ecologia integral” 151 Paulo II, em seu encontro com os indígenas na Guatemala em 7 de março de 1983, citando o número 57 da constituição pastoral Gaudium et spes . De fato, durante o processo de preparação e realização do sínodo, a presença de representantes das populações indígenas possibilitou aos padres sinodais conhecer melhor experiência religiosa dos povos da floresta, seus mi- tos, seus rituais e seu modo de se relacionar com a natureza. Assim, foi possí- vel aprender que da mesma forma como acontece na espiritualidade cristã, é também da experiência religiosa que os indígenas da Amazônia recolhem os elementos básicos de elaboração da sua compreensão de Deus e de si mesmos. Além disso, quando entramos em contato e diálogo com as cosmovisões e a espiritualidade desses povos, compreendemos melhor a importância da pre- servação da vida em nosso mundo ameaçado, no qual o ser humano muitas vezes se torna um predador e destruidor ambiental. Não por acaso, o próprio papa Francisco reconheceu o quanto podemos aprender com estas sabedorias dos povos da floresta, quando, ao falar aos indígenas em Puerto Maldonado, em 2018, no Peru, afirmou: “Aqueles que não vivem nessas terras precisam da sua sabedoria e conhecimento para que sejam capazes de entrar, sem destruir, no tesouro que contém essa região” (FRANCISCO, 2018). Ao adentrarmos um pouco mais nesse diálogo entre as espiritualida- des cristã e indígena, tomando como base os povos originários da região amazônica, constatamos uma enorme concordância de ambas narrativas espirituais, em relação ao que ensina a Laudato Si’ e a sua concepção de “ecologia integral”. Com efeito, os povos originários da Amazônia têm a sua espiritualidade caracterizada pela relação natural e cultural entre o indígena e a floresta, os rios, a terra, os animais, tecendo com essas criaturas uma verdadeira rede de reciprocidade. Para eles, a natureza não é algo estranho à sua existência, mas está intrinsecamente ligada à sua sociedade e cultura, como uma extensão de seu próprio corpo pessoal e social (DÍAZ FRANKY; CÁCERES AGUIRRE, 2016, p. 105). Tudo, portanto, está interligado, em um conjunto complexo de relações e inter-relações, com as quais se busca estabelecer um equilíbrio cósmico e uma integração dinâmica entre o ser humano e todas as demais criaturas da natureza, consideradas pelos indí- genas não como algo abstrato, sem voz e sem espírito, senão como sujeitos vivos e cheio de intencionalidade. Em nosso entendimento, essas espiritualidades e cosmovisões presen- tes entre povos indígenas nos oferecem uma rica contribuição, pois, quando com elas dialogamos, percebemos que a nossa espiritualidade cristã nos cha- ma igualmente a tratar a criação a partir de uma visão ecológica do mundo
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