Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Adelson Araújo dos Santos 150 em diversos trechos a encíclica Laudato Si’ com a frase “tudo está interliga- do”, dos quais destacamos alguns: Tudo está interligado. Por isso, exige-se uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compro- misso constante com os problemas da sociedade; Tudo está interligado. Se o ser humano se declara autónomo da realida- de e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque «em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza »; ... tudo está interligado. O tempo e o espaço não são independentes entre si; nem os próprios átomos ou as partículas subatómicas se podem considerar separadamente. Assim como os vários componentes do pla- neta – físicos, químicos e biológicos – estão relacionados entre si, assim também as espécies vivas formam uma trama que nunca acabaremos de individuar e compreender (LS, 91; 117; 137). 2.2. Ecologia integral e o diálogo entre fé e cosmovisões indígenas O conceito de “ecologia integral” desenvolvido pelo papa Francisco em sua Laudato Si’ e presente de forma central no sínodo especial sobre a Amazônia trouxe novamente para o centro da reflexão teológica temas im- portantes da teologia da criação que, como dissemos acima, destaca a relação harmônica e responsável que o ser humano é chamado a estabelecer com as demais criaturas, todas elas obras do amor de Deus e entregues aos cuidados da humanidade. Dentro desse contexto, percebemos que o diálogo com as cosmovisões e espiritualidades indígenas ajuda o cristão a redescobrir a sua missão de cuidar e salvar a criação, transformando-a em um bem acessível a todos e não apenas a alguns. De modo que, com os povos originários da Amazônia redescobrimos o que já a teologia e a espiritualidade cristã nos ensina, isto é, de que Deus está presente nos rios, nas matas, na terra e em toda a criação. Assim, por meio desse diálogo reafirmamos a presença das “sementes do Verbo” em todas as culturas, com as quais podemos nos enriquecer e extrair o que de melhor elas têm. De fato, desde o Concílio Vaticano II a Igreja nos ensina que, nessas outras expressões e experiências do divino, a presença da Palavra de Deus já estava ali, antes mesmo de se encarnar para nos salvar, “como a verdadeira luz que ilumina todo homem”, como afirmou São João

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