Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
O diálogo entre teologia, ciência e cosmologia indígena, a partir do conceito de “ecologia integral” 149 No que diz respeito ao discurso teológico, portanto, o conceito de “ecologia integral” nos ajuda a perceber a necessidade de se reformular o conteúdo dogmático da teologia para responder aos novos desafios trazi- dos por esta era ecológica, incluindo o reconhecimento da necessidade de uma “teologia ecológica”, na qual o universo é concebido como sempre em expansão e evolução. Por conseguinte, a criação divina deve ser concebida como um processo permanente, não como algo que aconteceu apenas uma vez no passado, senão como um evento que está acontecendo no presente e continuará a acontecer no futuro. A criação está em Deus e Deus está na criação, pela presença do Espírito Santo, que a recria constantemente, como dizia Teillard de Chardin, citado acima, quando falava do Cristo Cósmico. De outra parte, em relação ao discurso científico, a nova concepção de “ecologia integral” aponta para a abertura a categorias que vão além da linguagem das ciências exatas ou da biologia, pois que nos põem em con- tato com a essência do ser humano. A experiência espiritual vivida por São Francisco de Assis, já mencionada, o levou a uma atitude de contemplação sempre que olhava os astros, as plantas ou os animais, deixando-se envolver no louvor ao Autor de todas as criaturas. Ele entrava, assim, em comuni- cação com toda a criação, chegando mesmo a falar com elas, como se essas pudessem ouvi-lo, porque para ele qualquer criatura era uma irmã, unida a ele pelos laços do carinho, não pela dimensão intelectual ou por cálculos econômicos. Por isso, o santo de Assis se sentia chamado a cuidar de tudo o que existe, reconhecendo na natureza a manifestação de Deus, que nos fala e transmite algo de sua beleza e bondade pelas suas criaturas (ENCISO, 2020). Com efeito, a própria imagem bíblica do homem como um ser criado da terra – “Então Iaweh Deus modelou o homem com a argila do solo” (Gn 2,7) – por si só já nos faz perceber o estreito legame da humanidade com o planeta no qual vivemos. Por muito tempo, no entanto, o pensamento ocidental pareceu negar a existência de tais relações, concebendo o cosmos como um complexo de coisas distintas umas das outras com limites cla- ros. Contudo, hoje, com o auxílio das novas disciplinas científicas como a termodinâmica, a física quântica, a astrofísica, a ciência da computação, etc., podemos afirmar que a natureza é composta por sistemas abertos e complexos. Falamos de matéria feita de partículas que interagem à distân- cia, comportam-se como ondas, cujas propriedades não podem ser medidas com certeza, de forma assimétrica e irreversível. Ou seja, estamos novamente diante de uma ciência que fala de “laços” entre os seres, como nos recorda
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