Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Adelson Araújo dos Santos 148 Deus, isto é, ser capaz de ver o mundo com o olhar da fé e perceber nele a presença do Cristo cósmico , como princípio e fim, o Alfa e o Ômega de tudo que existe (Cf. Ap 1,8), o que na linguagem científica seria descrito como a fonte originária de todo ser. Com isso, as categorias de imanência e transcendência serão mais bem compreendidas a partir do que em teologia podemos chamar de panenteísmo (do grego: ‘ pan ’, tudo; ‘ em ’, em; ‘ theós ’, Deus), que etimologicamente significa que Deus está em tudo e tudo (está) em Deus. Portanto, Deus está presente no cosmos, assim como o cosmos está presente em Deus. E é assim que podemos afirmar que a criação e seus processos estão de alguma forma em Deus, sem que se deva confundir com Deus, que é sempre maior e maior que sua criação. No 5º aniversário da Laudato Si’ , celebrado em 25 de maio deste ano, as instituições pertencentes à seção interdicasterial da Santa Sé sobre “ecolo- gia integral” (VV. AA., 2020, p. 64) publicaram um importante documento com os principais pontos teológicos a serem explorados no processo cate- quético e na elaboração existencial da fé, com uma clara recomendação a que se fomente o estudo da teologia da criação e da relação do ser humano com o mundo, implementando-se cursos de teologia da criação com o ob- jetivo de desenvolver o conceito de “pecado contra a criação” e as bases da relação harmônica entre o ser humano e a criação. Com isso, espera-se que o estudo do mistério da criação na sabedoria das histórias bíblicas, onde o Pai Criador, sempre em relação com o Filho, no Espírito Santo, coloque o ser humano de volta em seu lugar e desperte nele o dom do amor a Deus e às suas criaturas. Criar a consciência de que tudo o que existe em nossa casa comum , o planeta Terra, é “criado” permite, assim, ao ser humano aproximar-se do mundo vendo as criaturas não como um objeto a possuir, mas como dons de Deus para serem respeitados, cuidados e valorizados. Por sua vez, o ser humano, sendo o vértice da criação, possui um papel qualitativamente dife- rente de todas as demais criaturas, sendo o guardião responsável da criação, sem cair em qualquer forma de antropocentrismo equivocado. Ademais, concebendo a criação como em contínua transição e evolução em direção à perfeição última, a teologia dá espaço também à reflexão sobre o mistério do mal que atinge a liberdade humana, contribuindo para que o ser huma- no possa superá-lo para “viver na força do Espírito sua existência em uma relação de fraternidade com toda a criação, aguardando a transfiguração do mundo” (2020, p. 90), em Jesus Cristo, o primogênito da criação e o Cami- nho de salvação dado pelo Pai ao ser humano.

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