Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
O diálogo entre teologia, ciência e cosmologia indígena, a partir do conceito de “ecologia integral” 147 para onde vamos, como fazem ademais todas as religiões, usando diferentes narrativas míticas. Ora, a partir da definição de “ecologia integral” somos chamados a construir um diálogo entre fé e ciência sem produzir confusão ou oposição entre essas duas abordagens, uma vez que a ciência busca explicar o “natu- ral”, por meio de um método, enquanto a teologia explica o “sobrenatural”, seguindo determinados princípios e dogmas. Como já nos alertava São João Paulo II (1998), quando escreveu Fides et Ratio , seria danoso à humanidade e aos cristãos opor-se ao diálogo entre a fé e a ciência, negando as evidências científicas, como infelizmente vemos em nossos tempos certos grupos fazerem, v. g. os terraplanistas, os negacio- nistas, etc. Tal incapacidade de lidar com narrativas diferentes é que leva a se buscar no fundamentalismo religioso uma “tábua de salvação”, com a falsa sensação de se ter ali todas as respostas e, portanto, de não precisar nem mesmo pensar. Por outro lado, dentro do campo da reflexão teológica, temos que re- cuperar o valor da teologia da criação para os tempos atuais, em que esta mesma criação está sendo tão ameaçada. De fato, dizia Santo Agostinho que a criação foi o primeiro livro que Deus nos deu, sendo ela também o primeiro tema abordado pelo livro do Gênesis, que inicia a coleção de livros da Sagrada Escritura. O teólogo não fala, pois, da natureza como tal, mas fala da criação na qual a mesma está incluída. E isto, inevitavelmente, nos remete ao Criador. Com efeito, ao escrever a encíclica Laudato Si’ , o Papa começa com o cântico de São Francisco de Assis, conhecido como o “Cântico das Criatu- ras”, o qual nos lembra que a terra, nossa casa comum , pode ser vista como uma irmã, com quem compartilhamos nossa existência, ou como uma bela mãe que nos acolhe em seus braços: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nos- sa irmã terra, que nos sustenta e nos governa e produz diferentes frutos”. Inspirado nessas palavras, o Papa pede para que “no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz” (FRANCISCO, 2017). Para o “poverello de Assis”, é possível viver vendo todas as coisas cria- das como sacramento e templo de Deus, sem que isso transforme cada coisa em pequenos deuses, confundindo as criaturas com o Criador. De fato, em sua experiência mística, São Francisco, ao abraçar o mun- do e as criaturas, abraçava o próprio Deus Criador de todas elas. Séculos depois, Teillard de Chardin chamaria a isso de “experiência cósmica” de
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