Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Adelson Araújo dos Santos 146 2.1. Ecologia integral e o diálogo entre fé e ciência Em nosso entendimento, uma definição epistemológica correta do termo “ecologia integral” nos leva necessariamente a concebê-lo, não como uma preocupação verde genérica, mas como uma abordagem que tenta se adequar a um sistema complexo, como o meio ambiente, cuja compreensão requer colocar as relações de cada uma das partes individuais entre si e com o todo em primeiro plano, sem simplesmente repetir velhas visões holísticas ou filosóficas sistêmicas. Nesse sentido, seguindo o esquema formulado por Paolo Benanti (2017, p. 82-88), acreditamos que seja possível chegar a algu- mas teses decorrentes do conceito de “ecologia integral”, tais como: • - Um único discurso, como o científico-tecnológico, não é su- ficiente para explicar os fenômenos e apontar soluções para os problemas ambientais, mas devemos considerar a multiplicidade de saberes e as múltiplas relações que existem entre as criaturas. • - Além do pensamento racional, há uma sabedoria presente na dimensão espiritual da relação do ser humano com a natureza que nos chama a uma conversão das próprias ações em relação à cria- ção, ou seja, a um novo estilo de vida. • - Não existem crises ambientais e sociais separadas, mas tudo está interligado e é necessário buscar soluções integrais em todos os níveis. O conceito de “ecologia integral”, portanto, aponta para um paradigma capaz de analisar e compreender as raízes comuns dos problemas ambientais e sociais. Por outro lado, é inegável que o conceito de “ecologia integral”, no modo como concebido no magistério do papa Francisco, favorece em muito o diálogo entre teologia e ciência, a partir da revalorização de uma teologia da criação, que em nada se opõe à ciência da evolução, mas amplia a sua perspectiva e a integra dentro do olhar transcendental da fé. Com efeito, quando falamos hoje de ciência da evolução, estamos a acenar para algo que é muito mais que uma teoria, pois que já temos co- nhecimentos suficientes para reconhecer como dados científicos, v.g., que os seres evoluem e se transformam ao longo do tempo, como afirmou Darwin. Por sua vez, a teologia da criação, como sabemos, baseia-se nos textos da Sagrada Escritura, que relatam uma experiência histórica do povo judeu- -cristão e a busca do sentido da vida. Neste caso, o autor do texto sacro não apresenta dados científicos, mas nos leva a refletirmos de onde viemos e
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