Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Josenir Lopes Dettoni 140 sa que nos propõe uma religação também com a natureza e os socialmente mais frágeis. Ora, um estudo um pouco mais aprofundado nos mostra que a fé cristã possui sim elementos sobre os quais se pode embasar uma perspectiva de responsabilidade socioambiental: [...] quero mostrar desde o início como as convicções da fé oferecem aos cristãos – e, em parte, também a outros crentes – motivações altas para cuidar da natureza e dos irmãos e irmãs mais frágeis. Se pelo sim- ples facto de ser humanas, as pessoas se sentem movidas a cuidar do ambiente de que fazem parte, «os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé» 4 (LS, 64). De fato, uma noção de bondade ontológica de toda a criação pode ser extraída da leitura bíblica. “Na primeira narração da obra criadora, no livro do Génesis, o plano de Deus inclui a criação da humanidade. Depois da criação do homem e da mulher, diz-se que «Deus, vendo a sua obra, consi- derou-a muito boa » ( Gn 1, 31)” (LS, 65). Nesse contexto, podemos também destacar uma revalorização do discurso da Teologia Natural, a reforçar o valor da criação. [...] São Francisco, fiel à Sagrada Escritura, propõe-nos reconhecer a natureza como um livro esplêndido onde Deus nos fala e transmite algo da sua beleza e bondade: «Na grandeza e na beleza das criaturas, con- templa-se, por analogia, o seu Criador» ( Sab 13, 5) e «o que é invisível n’Ele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras» ( Rm 1, 20). Em consequência dessa visão, quem atenta injustamente contra este bem, que é a criação, peca. Este é tema do pecado ecológico , cujas raízes teológicas não são novas, mas que tem ganho renovado destaque e definição mais explícita: Propomos definir o pecado ecológico como uma ação ou omissão con- tra Deus, contra o próximo, a comunidade e o meio ambiente. É um pecado contra as gerações futuras e se manifesta em atos e hábitos de contaminação e destruição da harmonia do ambiente, em transgressões contra os princípios da interdependência e na ruptura das redes de soli- 4 João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990, 15: AAS 82 (1990), 156.

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