Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Josenir Lopes Dettoni 138 Ora, se estamos diante de uma realidade entendida desde uma pers- pectiva integral, temos então o desafio de buscarmos uma abordagem sistê- mica, complexa. A especialização própria da tecnologia comporta grande dificuldade para se conseguir um olhar de conjunto. A fragmentação do saber rea- liza a sua função no momento de se obter aplicações concretas, mas frequentemente leva a perder o sentido da totalidade, das relações que existem entre as coisas, do horizonte alargado: um sentido, que se torna irrelevante. Isto impede de individuar caminhos adequados para resol- ver os problemas mais complexos do mundo actual [...] (LS, 110). Dada a interligação de tudo o que existe, a atual desconexão entre os saberes é insuficiente para nos ajudar a resolver os problemas complexos da atualidade. Assim, sobre a questão ambiental, a Laudato Si’ aponta para a necessidade de francos diálogos interculturais e interdisciplinares. Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múlti- plas causas, deveremos reconhecer que as soluções não podem vir duma única maneira de interpretar e transformar a realidade. É necessário re- correr também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade (LS, 63). Não cabe, portanto, neste ponto qualquer postura etnocêntrica colo- nialista. Tão pouco, um relativismo cultural radical. A necessidade de res- peito às culturas dos povos aborígenes é um exemplo claro de consequência prática desse posicionamento. Nessa mesma direção, a encíclica afirma que também é necessária uma relação harmônica entre os diversos tipos de conhecimento: Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos permita re- parar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sa- bedoria religiosa com a sua linguagem própria. Além disso, a Igreja Católica está aberta ao diálogo com o pensamento filosófico, o que lhe permite produzir várias sínteses entre fé e razão. No que diz respeito às questões sociais, pode-se constatar isto mesmo no desenvolvimento da doutrina social da Igreja, chamada a enriquecer-se cada vez mais a partir dos novos desafios (LS, 63). Assim, uma epistemologia ecointegral precisará desenvolver uma me- todologia de aproximação à integralidade desde um reto diálogo interdisci-
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