Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Filosofia Ecológica Integral: noções introdutórias a partir da leitura da Encíclica Laudato Si’ 137 te da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe im- põem as acções humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. A isto vem juntar-se o problema de que os objectivos desta mudança rápida e constante não estão necessariamente orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável e in- tegral. A mudança é algo desejável, mas torna-se preocupante quando se transforma em deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade (LS, 18). Frente aos perigos desse modelo, uma Filosofia Ecológica Integral deve desenvolver “[...] um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático” (LS, 111). Não se trata, no entanto, de renunciarmos às “possibilidades que oferece a tecnologia” (LS, 113), mas sim de buscarmos integrar positivamente tecnologia e meio ambiente. 3.5. Epistemologia Como campo filosófico que estuda a possibilidade do conhecimento e da verdade, a Epistemologia contemporânea enfrenta enormes desafios. Renúncia à metafísica, reducionismo cientificista e pós-verdade acabam por favorecer distorções em nossa aproximação ao tema socioambiental. Com efeito, vemos crescer uma onda de negacionismos sobre essa te- mática. Também fake news são cada vez mais produzidas e disseminadas a serviço dos interesses de quem não tem compromisso com o planeta e as próximas gerações. “Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder económico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas” (LS, 26). Se negar a ciência é muito ruim, também o é um certo reducionismo cientificista sobre o assunto. Segundo Picht (1989), o fato de as Ciências da Natureza não terem o estudo da essência da natureza como um de seus objetivos possibilita que elas contribuam para sua destruição. Aqui, nova- mente recordamos as reflexões de Hans Jonas sobre as características de uma ciência da vida (JONAS, 2004). Acerca dessa questão, Francisco afirma que “os conhecimentos fragmentários e isolados podem tornar-se uma forma de ignorância, quando resistem a integrar-se numa visão mais ampla da reali- dade” (LS, 138).
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