Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Filosofia Ecológica Integral: noções introdutórias a partir da leitura da Encíclica Laudato Si’ 135 Sobre essa interconexão com o ambiente, o papa Francisco assevera: “Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos res- pirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos” (LS, 2). Temos, desse modo, uma maior compreensão do homem sobre si, compreensão de que é parte do meio ambiente, estando a ele conectado. Assim, destacando-se a unidade homem-natureza e indicando seus interesses mútuos, pode-se superar um antropocentrismo reducionista depredatório e desumanizante. Nesse sen- tido, o aporte temático oferecido pela Ecologia Integral traz consigo uma clara evolução da reflexão antropofilosófica. Com efeito, já não podemos “considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera mol- dura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetra- mo-nos” (LS, 139). Neste ponto, cabe uma pausa reflexiva sobre como esse posicionamen- to afetaria nossa própria noção de identidade. Até que ponto essa interpene- tração levaria a uma “expansão do eu”? Tais reflexões antropofilosóficas são muito importantes para fundamentar, por exemplo, o posterior desenvolvi- mento de uma Psicologia Ecológica Integral. Caberia a ela uma investigação mais científica sobre esse tema identitário, por exemplo. Outro aspecto antropológico importante presente na Laudato Si’ é o de pessoalidade, com suas dimensões relacionais: [...] para uma relação adequada com o mundo criado, não é necessá- rio diminuir a dimensão social do ser humano nem a sua dimensão transcendente, a sua abertura ao «Tu» divino. Com efeito, não se pode propor uma relação com o ambiente, prescindindo da relação com as outras pessoas e com Deus. Seria um individualismo romântico disfar- çado de beleza ecológica e um confinamento asfixiante na imanência (LS, 119). Também a proposição de que o homem é um ser criado por amor e para amar é essencial em uma Antropologia Ecológica Integral. “Como foi criado para amar, no meio dos seus limites germinam inevitavelmente gestos de generosidade, solidariedade e desvelo” (LS, 58). Tais características antropológicas merecem grande atenção e o desen- volvimento da reflexão filosófica sobre o tema pode contribuir para uma configuração cultural que esteja mais preparada para lidar com os problemas ambientais e com outros desafios que se desenham para o futuro.

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