Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Josenir Lopes Dettoni 134 Com o avanço cultural da ciência e da racionalidade, a noção antro- pológica de inspiração cristã foi questionada e a compreensão do homem como um animal racional ganhou maior destaque. A ciência apresenta essa animalidade como um produto da evolução das espécies, sem prioridade ontológica. Nos dias de hoje, em meio a diversas novas aproximações teóricas so- bre o tema, a noção de indivíduo parece ser determinante na forma como ocidentalmente passamos a nos entender. De modo marcante, a filosofia ocidental contemporânea tende a indicar os ideais da autossuficiência, independência, emancipação e autonomia como caminhos de realização do ser humano. Em termos práticos, a individualidade passou a ser considerada como valor supremo; e o indi- víduo (o que não se divide), como unidade social e fundamento moral (DETTONI, 2017, p. 9). No entanto, quando tal compreensão se manifesta culturalmente em sua forma exacerbada, temos um individualismo que rejeita os ideais de solidariedade e cuidado para com os demais e a natureza. Frente a essa insu- ficiência, surge o Pós-Individualismo. Essa teoria não quer ser a antítese do individualismo, mas sua síntese. Surgiria do aprofunda- mento da análise do indivíduo para, a partir dele, e não contra ele, abrir-se a novos horizontes conceituais de superação do reducionismo individualista. Desse modo, não se trataria simplesmente de negar o indivíduo, mas de descobrir nele o “comunitário” que o constitui e, de certa forma, o ultrapassa. Uma concepção que, ao abarcar o conflito entre as dimensões individuais e coletivas, suprime-as, guarda-as e as eleva a um novo grau, suprassumindo-as (DETTONI, 2017, p. 102s). Tal posicionamento desafia a base antropológica do individualismo, por entender o homem em sua vinculação com a natureza e os demais, e não simplesmente como um indivíduo independente. É o que também a Lauda- to Si’ parece indicar quando destaca que “não haverá uma nova relação com a natureza, sem um ser humano novo. Não há ecologia sem uma adequada antropologia” (LS, 118). Nesse sentido, a noção de ecologia integral traz consigo aspectos an- tropológicos importantes, que resgatam elementos como interdependência, pessoalidade e amor.

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