Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Filosofia Ecológica Integral: noções introdutórias a partir da leitura da Encíclica Laudato Si’ 133 Diante desse cenário, a Laudato Si’ oferece uma renovada hermenêu- tica ambiental, explicitando que a correta interpretação da Igreja Católica sobre o relato da criação rejeita um domínio absoluto do homem sobre as outras criaturas e implica uma relação de reciprocidade responsável entre os seres humanos e natureza. O uso consciente da terra para obter o neces- sário para a sobrevivência, com o dever de proteger a natureza e respeitar a possibilidade de subsistência das gerações futuras, deve ser observado. Para essa posição hermenêutica sobre o assunto, “[...] a interpretação correcta do conceito de ser humano como senhor do universo é entendê-lo no sentido de administrador responsável” (LS, 116). Assim, devido à hermenêutica ambiental que a Laudato Si’ oferece, a Filosofia Ecológica Integral parece apresentar elementos de um Antropocen- trismo Ilustrado , moderado, pois compreende a interconectividade constitu- tiva da natureza, sem deixar de eleger o homem como centro desse mundo natural. Entre as posições do Antropocentrismo Absoluto (despótico) e Biocen- trismo (ou mesmo de Ecocentrismo ), temos uma ecologia antropocêntrica res- ponsável . Uma posição em que nem a natureza é concebida como simples coisa, nem o homem está perdido no universo; mas uma visão do ser huma- no como alguém que se preocupa com e se entende unido à natureza. E essa união é compreendida em um contexto de integralidade cosmológica, já que “[...] tudo está estreitamente interligado no mundo” (LS, 16). Temos, portanto, uma nova corrente teórica dentro do campo da Fi- losofia Ambiental, que, como se pode perceber, apresenta desdobramentos antropológicos muito importantes. Isso é o que discutiremos a seguir. 3.3. Antropologia Filosófica A reflexão sobre a relação entre o homem e a natureza acaba implican- do claramente em uma maior necessidade de investigação filosófica sobre o que é propriamente o ser humano. Estamos, assim, no campo da Antropo- logia Filosófica. Do ponto de vista judaico-cristão tradicional, o homem é entendido como criado à imagem e semelhança de Deus, tendo o direito de exercer senhorio sobre a criação. Tal concepção, por compreender a natureza em função do humano e por lhe conferir seu domínio, acabou, como já vimos, servindo inclusive de substrato teórico justificador para uma ação explora- tória abusiva.
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