Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Josenir Lopes Dettoni 132 sobre as implicações específicas do conceito de ecologia integral em outras áreas filosóficas. Desse modo, passamos a tratar aqui do que é conhecido como Filosofia Ambiental, uma área do pensamento filosófico que reflete sobre o meio ambiente e o papel do ser humano nele (BELSHAW, 2001). Seu estudo nos mostra que, ao longo da história, o homem desenvol- veu diferentes conceitos de natureza. Thomas Kesselring (2000, p. 153), por exemplo, apresentando a história do conceito de natureza no Ocidente, identifica cinco fases com características específicas, partindo da Antiguida- de Grega e depois abordando a Idade Média, a primeira fase da Modernida- de, a segunda fase da Modernidade (século XIX e início do século XX) e a visão contemporânea. A investigação de tal diversidade de perspectivas mostra que a concep- ção de natureza como criação divina não é um dado definitivo para a Filo- sofia, mas uma das hipóteses racionais a esse respeito. Assim, nesse campo, revela-se o desafio de não ser possível contarmos com a Teologia como axio- ma de reflexão capaz de estimular o uso responsável dos recursos naturais por crentes e não crentes. Essa diversidade de perspectivas culturais também nos remete à possi- bilidade de aprendermos com outras culturas sobre sua relação com a natu- reza. A esse respeito, Francisco afirma, por exemplo, que [...] é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades abo- rígenes com as suas tradições culturais. [...] Para eles, a terra não é um bem económico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores. Eles, quando permane- cem nos seus territórios, são quem melhor os cuida (LS, 146). Ora, em geral, uma perspectiva tradicional do cristianismo cultural sobre a natureza a entendeu como algo à nossa disposição, um recurso a explorar. “Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la” (LS, 2). Além disso, um insuficiente cientificismo moderno apresenta a natureza apenas como “coisa extensa”, objeto de quan- tificação, mensuração, mera realidade externa, sem qualquer valor intrínse- co, apenas um dado que precisa ser dissolvido para ser compreendido. Essas visões, somadas ao aumento de nosso poder através dos avanços tecnológicos, contribuem para a configuração da atual situação ambiental, na qual nada menos que toda a biosfera do planeta está sob o impacto de nossas ações, que têm lhe causado grandes danos.

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