Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck 94 comerciais e shows no mundo europeu, como discutido na obra de Andressa Schons et al . (2018), referindo estudos acerca da história de Sarah: É nesse contexto histórico de racionalismo e de sua utilização pe- las nações europeias para justificar a dominação e ocupação do ter- ritório africano, que surge a personagem histórica em questão: Sarah Baartman (1789-1815). Como várias mulheres da etnia Khoikhoi, Sarah apresentava uma alteração em sua anatomia conhecida como esteatopigia. Suas dimensões corporais, consideradas “excêntricas”, segundo a perspectiva europeia, chamaram a atenção do cirurgião e oficial do exército britânico Willian Dunlop, que conseguiu autoriza- ção da administração colonial para levar a jovem a Londres, em 1810 (SCHONS et al ., 2018, p. 04). A história da mulher negra que durante o século XIX viu seu próprio corpo se tornar um instrumento pedagógico do racismo em suas múltiplas nuances pode contribuir para observarmos como o racismo ao longo do tempo se refinou, ao ponto de já não mais ser necessário ver as jaulas, nem ouvir os gritos e ofensas proferidos. 6 Hoje, as mulheres negras, ainda que ocupem e transitem em espaços hegemonicamente de indivíduos brancos, seguem enjauladas pelas imagens de controle que definem quem elas devem ser, como devem se portar e quais são os papéis que podem desempenhar dentro de um espaço da sociedade branca. O conceito de imagem de controle proposto por Collins (1990) se coaduna com a discussão feita a partir de outros intelectuais das Ciências Sociais, como Stuart Hall (2010) ao compreender que existe uma matriz de dominação hegemônica baseada na diferenciação e na criação de este- reótipos, formando um binário no qual primeiramente existe um indivíduo que é o padrão, centro de toda cultura, um “eu” que é construído através da destituição da identidade do “outro”. A partir dessa condição de outridade, são criados diversos estereótipos negativos que acabam por aprisionar os indivíduos que estão à margem do “eu” (HALL, 2010, p. 430). Podemos obter o significado exato da relação que trazemos em nosso artigo sobre a personagem em questão e seu significado subjetivo para mu- 6 Temos presente, mesmo sem termos condições de ampliar o leque deste estudo, as importan- tes contribuições de Michel Foucault, sobretudo com o conceito de biopoder (FOUCAULT, 2002).

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