Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Racismo Ambiental, Ecologia Integral e Casa Comum:... 93 Posteriormente discutimos o feminismo negro no diálogo com os conceitos de racismo estrutural (ALMEIDA, 2019) e o racismo ambiental (CHAVIS JR. 1981; ALMEIDA, 2015; LOPES, 2014). Em um segundo momento, referimos o paradigma da “casa grande e senzala” depreendido da obra de Gilberto Freyre (FREIRE, 2019) que se contrapõe à ideia da “ casa comum ”, proposta pelo papa Francisco em 2015 (FRANCISCO, 2015). Enquanto o paradigma da “casa grande e senzala” é a marca de permanente reprodução das desigualdades sociais e raciais, a provocação da “ casa comum ” é sinaliza- ção de ruptura radical com as desigualdades e seus mecanismos de reprodu- ção. Por fim, dialogamos com o paradigma da ecologia integral, igualmente como importante provocação frente às estruturas segmentadas, excludentes e racistas que se reproduzem através de diversas dinâmicas e interações so- ciais dentro e fora das instituições universitárias e outras, sinalizando para a importância, entre outras frentes de ação, de movimentos como o femi- nismo negro e a “educação das relações étnico-raciais”, como duas pontas de combate importantes nesta provocação da ecologia integral. O significado da imagem de Sarah ‘Saartjie’ Baartman O pensamento feminista negro abarca inúmeros conceitos capazes de dar conta da realidade de mulheres negras 4 em múltiplos contextos, seja através de uma perspectiva de norte/sul global, seja em contextos distintos de classe, orientação sexual, religiosidade e afins. O conceito de imagens de controle, discutido através do pensamento de Patricia Hill Collins em seu livro Black FeminismThought: Knowledge, Consciousness (2000 [1990]), 5 tor- na-se nosso ponto de partida para repensarmos a história de Sarah ‘Saartjie’ Baartman (1789-1815). Primeiramente, é importante pontuar que a Sarah não foi a única de sua etnia a ser enjaulada e mantida em cativeiro para fins 4 Torna-se importante pontuar que, de um modo geral, o pensamento feminista negro busca dis- cutir para além da realidade das mulheres negras, pensando a questão da masculinidade, e como isso reflete na formação identitária de homens negros e brancos (DE SOUZA, 2014; CONRA- DO; RIBEIRO, 2017). Deste modo, ao argumentarmos que o feminismo negro abarca inúme- ras teorias que explicam a realidade das mulheres negras, estamos justificando a teoria escolhida com nossos sujeitos de estudos, do que propriamente limitando a teoria e suas possibilidades de análise. 5 O livro possui uma edição em português lançada no Brasil em 2019 pela editora Boitempo e, neste artigo, trabalhamos tanto com a edição em português, quanto a versão original (2000), devido algumas mudanças que ocorrem entre as edições.

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