Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

A saúde na perspectiva da Ecologia Integral em tempos da pandemia da Covid-19 83 saúde. Essa concepção transforma a visão sobre os riscos e agravos à saúde, porque passa a incluir o ambiente como algo fundamental para a produção das condições sociais de reprodução da vida – daí se conjugam a sustenta- bilidade ambiental e o desenvolvimento social como bases para entender a saúde como qualidade de vida. Isso significa, segundo Minayo (2002), um processo de construção de novas subjetividades pela participação em projetos de mudanças em uma ótica de desenvolvimento sustentável e de cumplicidade com as gerações futuras. Embora existam tentati- vas de quantificar indicadores (...). A definição de qualidade de vida é eminentemente qualitativa, pois junta, ao mesmo tempo, o sentimento de bem-estar, a visão de finitude dos meios para alcançá-lo e a disposi- ção para a solidariedade, ampliar as possibilidades presentes e futuras. Dessa maneira, o enfoque ecossistêmico de saúde como qualidade de vida é como um guarda-chuva onde estão ao abrigo nossos desejos de felicidade, nossos parâmetros de direitos humanos; nosso empenho em ampliar as fronteiras dos direitos sociais e das condições de ser saudável e de promover saúde (MINAYO, 2002, p. 174). Essa compreensão ecossistêmica da saúde significa também, em con- sonância com o paradigma da ecologia integral, dar atenção à diversidade cultural que conforma o contexto no qual estão os dispositivos simbólicos e as ferramentas culturais para fazer frente aos riscos e agravos que ameaçam a saúde, entendida como capacidade de reação. Nesse tempo de pandemia o cuidado com a saúde mental é fundamental, dependendo em grande parte de recursos simbólicos que a pessoa acessa no seu contexto sociocultural. Saúde supõe a capacidade de assumir a responsabilidade pessoal diante da dor, da ameaça e da morte. Essa capacidade de reagir está essencialmente ligada à cultura que fornece os recursos simbólicos. Nesse sentido, é uma capacidade coletiva de reação frente à fragilidade e enfrentar o meio am- biente. Cultura é o casulo que permite situar-se no nicho para sobreviver. Toda cultura é uma das formas possíveis de viabilidade humana. Cultura é o regulamento da luta para sobreviver. O código cultural serve de matriz para o equilíbrio externo e interno da pessoa. Cria um quadro de referên- cia para situar-se e de sentido para as manifestações de fragilidade como é o caso de uma pandemia. Esse poder gerador de saúde é inerente a toda cultura tradicional e está ameaçado pela cultura criada pelo paradigma bio- médico atual que oferece puramente soluções químicas para os problemas. A instituição médica prega a eliminação da dor, das anomalias e da morte

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