Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

José Roque Junges 82 Tendo presentes as dinâmicas de funcionamento da ecologia mental e da ecologia social são possíveis tanto as piores catástrofes ambientais, que já se estão produzindo, como também evoluções flexíveis de solução para o problema, porque os equilíbrios naturais dependerão, sempre mais, de inter- venções humanas. A pandemia pode ser uma ocasião para pensar soluções de equilíbrio ecossistêmico, tendo presente que o isolamento social possibilitou o melhoramento nos níveis de poluição. É necessário saber conjugar esses equilíbrios com os fluxos do espaço habitado, criando socioecossistemas sustentáveis através de uma ecologia ambiental (GUATTARI, 1990). Esses ecossistemas são totalidades que conjugam o natural e o social, necessitando integrar-se para que sejam sustentáveis. Portanto, a ecologia ambiental pre- cisa pensar-se sistemicamente para harmonizar as preocupações da ecologia mental e social com o meio ambiente. Só nessa perspectiva integradora do mental, do social e do ambiental será possível criar ambientes eco-socio-sus- tentáveis. Como a crise sanitária causada pela pandemia está intimamente ligada à crise ambiental, criadora das condições para o surgimento de vírus, o restabelecimento de ambientes eco-socio-sustentáveis é o desafio maior e urgente neste momento. Compreensão ecossistêmica da saúde A pandemia obriga repensar o modo de conceber a saúde e os riscos que a ameaçam. O paradigma da ecologia integral oferece ferramentas ade- quadas para essa tarefa de trilhar novos caminhos para equacionar social- mente a questão da saúde. O primeiro pressuposto básico e irrenunciável é que a saúde, como capacidade de reagir às ameaças de desequilíbrio, man- tendo a homeostase vital, não é uma questão puramente individual, mas primordialmente coletiva, porque a saúde depende das interdependências socioambientais, porque tudo está interligado em uma teia de inter-relações. Em outras palavras, o equilíbrio necessário para ter qualidade de vida de- pende de condições socioambientais e a proteção e recuperação das ameaças a esse equilíbrio depende de estruturas coletivas oferecidas pelos sistemas públicos de saúde e assistência social. Essa constatação leva a ter uma com- preensão ecossistêmica da saúde. Há uma mudança de foco nesta concepção, porque o espaço socioam- biental não é algo exterior que condiciona lateralmente o processo saúde- -doença, mas algo que essencialmente faz parte da própria compreensão de

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz