Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

A saúde na perspectiva da Ecologia Integral em tempos da pandemia da Covid-19 81 A subjetividade capitalística, engendrada pelos operadores, está ma- nufaturada para premunir e destruir qualquer intrusão de acontecimentos suscetíveis de atrapalhar e perturbar o consenso liberal do mercado. Por isso, o capitalismo globalizado e financeiro descentra seu foco da produ- ção de bens e serviços para a configuração de estruturas produtoras de sentido e de signos que capturam a subjetividade pelo controle da mídia e da publicidade. Trata-se de dispositivos de agenciamento da subjetividade sem enunciação, porque são dispositivos desterritorializados e passivos, que não estão enraizados no contexto cultural do sujeito. A pandemia pode criar ocasiões de enunciação, porque questiona o modo como se viveu até agora, fazendo pensar e levando a necessidade de uma mudança na forma de vida. Por isso é importante descobrir vetores potenciais de enunciação, na atual produção de sentido e de signos na mídia, para possi- bilitar a crítica e a desconstrução da captura simbólica. É necessário, para tal, partir de uma análise da lógica originária da subjetividade que não se expressa ainda em relação a objetos nem se compreende como pessoa, mas vai ao processo primário de configuração da protosubjetividade. Trata-se de apontar a ecologia das ideias que conforma o sistema de pensamento ou o “espírito” coletivo simbólico que rege as representações mentais, não dependente dos indivíduos, conformadora da mentalidade da sociedade e dos seus grupos sociais (GUATTARI, 1990). O momento da pandemia, requerendo esforços e respostas sociais, exige a atenção e a conscientização da mentalidade que configura os comportamentos como algo fundamen- tal para criar sensibilidade coletiva. As patologias da ecologia mental, expressas na subjetividade serial cap- turada, se reproduzem na ecologia social dos grupos sociais massificados pela mídia, culturalmente nivelados e achatados, num clima produtor de in- sensibilidade social e de conflitos de interesse. Como reação a esse contexto, trata-se de promover um eros grupal que invista afetiva e pragmaticamente em grupos humanos que vivem e expressam outra forma de vida, produtora de sua própria normatividade, não se deixando capturar pela mentalidade do mercado. A pandemia obrigou a uma maior sensibilização pelo coletivo e gestos de solidariedade pelo desafio de viver o isolamento social. Portan- to, trata-se de possibilitar uma subjetivação diferente, pela via da contínua ressingularização num coletivo grupal diverso, fazendo surgir uma era pós- -industrial, pós-mídia (GUATTARI, 1990) e pós-pandemia, possibilitada pela aldeia digital, cujos processos foram acelerados e aprofundados pela quarentena.

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