Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
A saúde na perspectiva da Ecologia Integral em tempos da pandemia da Covid-19 79 Sem ter presente essa perspectiva ecossistêmica de interligação não será possível preservar os dinamismos e os equilíbrios da natureza, necessários para a sustentabilidade socioambiental que protege contra o surgimento de novos vírus sempre mais ameaçadores. Isso exigirá reformulações nos pro- cessos produtivos econômicos que reduzem os seres naturais a puros recur- sos, esquecendo o valor intrínseco da natureza, cujos serviços criam as con- dições para que a vida possa existir. Essa necessária reconfiguração ecológica ambiental do sistema econômico é o desafio maior para a sustentabilidade (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Não por acaso, a crise sanitária e a am- biental acontecem concomitantes com a crise econômica, não simplesmente como fruto da pandemia, mas como aceleração e agudização de uma crise que vem se alastrando nos últimos anos, ocasionada pelas crises financeiras cíclicas provocadas por uma economia sempre mais virtualizada pela aplica- ção no mercado de finanças (PARANÁ, 2016). A solução para essas crises é a drenagem extorsiva de fundos públicos para garantir direitos sociais, como a saúde, para o capital privado de empresas de saúde. Essa total distorção do sistema de saúde, como garantidor de um direito social, aparece no momen- to da pandemia (MARAZZI, 2011). A ecologia integral, além da ecologia ambiental, inclui também a eco- logia cultural, pois a preservação do patrimônio natural precisa ir unida à preservação do patrimônio cultural, porque a identidade sociocultural de- termina o ambiente. A destruição do patrimônio cultural significa a destrui- ção de dispositivos culturais seculares de harmonização com o natural e de ajuda solidária nos momentos de tragédia social. A preocupação ecológica exige o cuidado com as riquezas culturais do lugar, como requisito para preservar o meio ambiente e a sociedade como um todo. A sociedade do consumo provoca achatamento cultural que destrói os valores culturais de sensibilização pelo ambiente e o comum, proporcional à destruição dos bens naturais (LS, 143-146). A ecologia cultural expressa-se na ecologia humana manifestada nos comportamentos e costumes da ecologia cotidiana, pois existe íntima rela- ção entre os espaços socialmente organizados e os comportamentos huma- nos e sociais. O acesso à casa e existência de espaços sociais saudáveis são essenciais para uma ecologia humana. O estado de abandono e caos urbano em que vive a maioria da população impede a criação de sensibilidade social e ecológica pela preservação do ambiente e do comum. (LS, 147-155). A ecologia integral é inseparável da noção do comum, princípio unifica- dor da ética social. A cultura individualista que impera na sociedade desinte-
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