Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Ecologia Integral: nova racionalidade ambiental fundada na justiça socioambiental 69 e eficiente precisamente porque os países baseados nesse modelo capitalista sabotam os esforços de uma consciência planetária em torno da sustentabi- lidade do planeta (COMAS, 1993). Os principais países que se destacam no aprofundamento das injustiças (ambientais ou) socioambientais são os EUA, China, Rússia, Índia e Brasil. São países que resistem a uma nova racionalidade e não querem abandonar o nível de consumo existente e o modelo de desenvolvimento arrogante. Seus representantes, uns mais outros menos, chegam a negar o aquecimento global como resultado do modelo econômico. O Brasil, particularmente nos últimos dois anos, deu um salto no “ranking” na lista dos países mais injustos socialmente do mundo, pe- los ataques aos povos tradicionais e pela legislação ambiental (ALMEIDA; ARAÚJO, 2018). No entanto, a própria lógica da racionalidade ambiental chama para uma interrogação mais ampla, que ultrapassa a questão política e deve ser buscada na crise profunda que envolve o próprio modo de relação entre homem, cultura e natureza (VAZ, 1992). Trata-se de uma crise que envolve, em sua base, a própria relação do homem consigo mesmo e com os demais em sociedade. Diversos aspectos devem ser apontados ou denunciados, quando nos posicionamos assim dentro de uma racionalidade ambiental aberta e que se deixa questionar mais amplamente. Um primeiro aspecto é que o sistema geral está em crise, uma crise que cresce com o próprio crescimento econô- mico. Essa crise consiste a priori na destruição de valores, não acidentalmen- te, mas indispensável para que a integração global das economias, dos países se concretize em uma única lógica dominante do capitalismo (FRANCIS- CO, 2015). O segundo aspecto é a pretensão do sistema de incluir todas as áreas da vida humana, ou seja, o capitalismo enquanto cultura, de modo que a lógica do mercado adentre e invada todos os campos da realidade hu- mana, gerando hábitos, modos de pensar e viver promovidos pelo sistema. O terceiro aspecto é a criação de uma cultura anti-solidariedade, ou seja, a oposição da lógica do mercado à lógica da solidariedade, de modo que as outras crises estão relacionadas. E, por último, o quarto aspecto é o aprofun- damento das injustiças, hoje compreendidas como socioambientais, já que não há nenhum impacto no sistema que não afete todas as dimensões, em especial, social e ambiental, ou seja, gerou-se uma evidência da inseparabili- dade das injustiças sociais e injustiças ambientais. A lista de aspectos acima apontados (ou denunciados) chamam por uma resposta pautada na justiça socioambiental da qual o campo da susten-

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