Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Sílvio Marques Sousa Santos e Therezinha de Jesus Pinto Fraxe 66 afirmar que a construção da realidade mesma é resultado do que é estabele- cido em uma ordem de conhecimento imediato do mundo. Estes sistemas simbólicos são constituídos e apropriados por especialistas de um campo que se produz e circula de maneira relativamente autônoma. Autônoma em referência a outros campos, porém influenciado pelo macrocosmo, daí sua autonomia relativa. Como podemos perceber, o campo é uma estrutura rela- tivamente fechada, já que sua constituição e participação dependem de certo capital simbólico que exige aquele microcosmos. Conforme o autor (1983, p. 123), “universo da mais pura ciência é um campo como qualquer outro, com suas relações de força e monopólios, suas lutas, estratégias, interesses e lucros.” Neste sentido, Pereira (2015, p. 341) diz que “campo é um mi- crocosmo social dotado de certa autonomia, com leis e regras específicas, ao mesmo tempo em que influenciado e relacionado a um espaço mais amplo”. Esse conceito, então, se ergue como um espaço no qual se estabelecem todas as formas de disputas. Tal qual qualquer esporte praticado em um lugar que podemos chamar de campo, que tem seus objetivos, participantes (físico ou institucional), suas regras, seus juízes, treinadores, contendas, jogadas sujas, jogadas limpas, doping , torcida etc.… da mesma forma, existem todas estas variáveis, atores na concepção de campo de Bourdieu. A diferença entre o jogo jogado no campo dos esportes para o jogo jogado no campo das ciên- cias, respectivamente, são a objetividade finita de um e a possibilidade de disputas infinitas do outro. A noção de campo em Bourdieu se torna assim uma ferramenta valiosa na análise, especialmente dos conflitos, atores, pers- pectivas, enfim, da construção de realidades e objetos próprios das ciências. A singularidade do campo da sustentabilidade, além de sua elastici- dade, é que ele possibilita, de forma válida, a participação homogênea de seus atores. Nascimento (2012) apresenta as possibilidades do uso do termo sustentabilidade quando realiza uma trajetória da construção desse campo. Pode-se compreender como construção a partir de 1972, na conferência de Estocolmo até os dias atuais com um aporte do campo religioso com a En- cíclica Laudato Si’ do papa Francisco. Como diz o sociólogo O desenvolvimento sustentável se tornou um campo de disputa, no sentido utilizado por Bourdieu, com múltiplos discursos que ora se opõem, ora se complementam. O domínio da polissemia é a expressão maior desse campo de forças, que passa a condicionar posições e medi- das de governos, empresários, políticos, movimentos sociais e organis- mos multilaterais (NASCIMENTO, 2012, p. 51).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz