Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Sílvio Marques Sousa Santos e Therezinha de Jesus Pinto Fraxe 62 partir do pressuposto de que a modernidade excessiva e deficitária se baseia, fundamentalmente, na construção de uma civilização que é devedora e essa dívida é a da razão mesma, ponto fundamental da crise da civilização que se manifesta agora. Para Leff (2001), a atual crise ecológica é uma dívida da razão moderna que supostamente libertaria o homem e os povos da ig- norância mitológica, das cadeias da escassez, mas acabou escondendo suas intuições, impondo uma razão que escraviza e submete a razão às regras da racionalidade econômico-tecnológica, limitada a uma racionalização gerada pela razão do poder. Essa observação de Leff (2002) é semelhante à proposta por Marcuse, que anos antes chamara a atenção para o fato de que o desenvolvimento da racionalidade e irracionalidade capitalistas se tornam uma razão: a do desenvolvimento desenfreado da produtividade, da conquista de natureza e do aumento da quantidade de bens. Mas, trata-se de uma “razão” irracional, porque o aumento da produtividade, o domínio da natureza e a riqueza social acabam se tornando forças destrutivas. Portanto, devemos perguntar-nos: O que houve de errado com a mo- dernidade? Como pôde gerar algo tão catastrófico que nos fez cair na séria cri- se socioambiental que vivemos? A racionalidade moderna, enquanto raciona- lidade instrumental e econômica, gerou um enorme passivo socioambiental, que caracteriza a atual situação histórica que vivemos com fenômeno central. Frente a esta constatação, qual é o caminho para esse “fracasso indubi- tável de um modelo de razão, exposto em um modelo de racionalidade que não pode lidar com sua precariedade e seus limites e se limitar a si mesmo”? (PELIZZOLI, 1999, p. 15). Ou, então, como interroga Berman (1986): Como superar essa matriz de pensamento baseada nos pilares da racionali- zação do econômico e que mostra sinais claros de obsolescência? Diante dessas inflexões, passamos a propor uma possível resposta ao nosso tópico de trabalho, ou seja, a elaborar um contributo para uma nova racionalidade já proposta por diversos autores como alternativa a uma epis- temologia da racionalidade ocidental que aí está. Essa proposta nada mais é que intensificar nosso mergulho no estudo e participação na elaboração da racionalidade ambiental. Neste sentido, propomos retomar algumas regras de pensamento e comportamento dos atores sociais que estão estabelecidos dentro das estruturas de relações de força e de disputa de poder, com as quais Pierre Bourdieu trabalha em sua concepção de campo de atividades . Queremos entrar com mais decisão na lógica dessas estruturas ou desses campos de atividade.

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