Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Ecosofia na Deep Ecology e a Ecologia Integral da Laudato Si’: convergência nas diferenças 53 climáticas e o clima como bem comum (LS, 23-26), a questão da água e o acesso desse bem precioso para os mais pobres (LS, 27-31); a perda da biodiversidade (LS, 32-42). A seguir, relaciona os efeitos da degradação ambiental, do atual modelo do mercado e da cultura do descarte sobre as pessoas: deteriorização da qualidade de vida humana e degradação social (LS, 43-47). Denuncia a desigualdade planetária, pois os impactos ambien- tais negativos afetam de modo especial os mais frágeis da Terra (LS, 48-52). Critica um mero “discurso verde” (LS, 49), que se equipara ao da ecologia rasa, apontada por Neiss: “cresce uma ecologia superficial ou aparente, que consolida certo torpor e uma alegre irresponsabilidade”, negando a gravida- de da situação atual. Tal comportamento evasivo “serve para mantermos os nossos estilos de vida, produção e consumo (LS, 59). Francisco assevera que a abordagem da ecologia integral inclui neces- sariamente a dimensão social. Tal convicção será repetida de diversas for- mas no correr da encíclica. “Uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres” (LS, 49). Como a enorme desigualdade social lesa não somente indivíduos e grupos sociais, mas afeta também países inteiros, urge uma ética das relações internacionais (LS, 51). Não há espaço para a globalização da indiferença; é preciso revigorar a consciência de que somos uma única família humana (LS, 52). A leitura do cenário socioambiental desperta a consciência e nos faz sentir a dor do mundo como dor que nos toca por dentro, impulsionando assim o engajamento (LS, 19). Tal perspectiva se coaduna com a deep ecology e a ecosofia : de ir além da constatação dos fatos e adotar a ética ecológica local e global. (6) Uma divergência. O panorama das principais questões socioam- bientais do planeta, delineadas no capítulo II da Laudato Si’ converge com o 5º princípio da plataforma da ecologia profunda: “a atual interferência humana no mundo não-humano é excessiva e a situação está piorando acele- radamente” (NAESS; SESSIONS, 1984). Há, no entanto, uma clara disso- nância. O 4º princípio sugere “um substancial decrescimento da população humana”, pois “o florescimento da vida não-humana exige essa diminuição”. A Laudato Si’ reconhece que a má distribuição da população nos territórios causa impactos sociais e ambientais negativos. Mas rejeita o controle da na- talidade como política pública, argumentando que o problema não reside no incremento demográfico, e sim no consumismo exacerbado e seletivo, acrescido ao enorme desperdício de alimentos (LS, 50).

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