Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Afonso Murad 48 (f ) Solidariamente . A transformação não é um ato individual. Distin- gue-se “isolamento” de “solitude”. “O isolamento asfixia, é letal e egoísta. A solitude, ao contrário, oferece um espaço de liberdade, a fim de que, sendo eu mesmo, possa comunicar aos outros essa parte que lhes falta, que é efetiva- mente um mesmo e vice-versa” (PANIKKAR, 1994, p. 57). A transformação requer cúmplices: grupos, movimentos, socialidade, polis, comunidade, igreja. (g) A transformação deve ser automotriz. Ela não precisa de um ape- lo externo. Nem de um modelo, um programa pré-fixado. Por quê? “Quan- do se tem um programa externo a nós, então para alcançá-lo começamos todas as lutas contra aquilo que obstaculiza nosso desejo de chegar ali (..) Queremos civilizar os outros, convertê-los” (PANIKKAR, 1994, p. 58). Gregório de Nissa comenta que, diante do chamado de Javé (Gn 12.1-2), Abraão sabe que está cumprindo a vontade de Deus porque não sabe aonde vai. Então, quando não se sabe aonde vai, se está no bom caminho. Porque somos vulneráveis, podemos retificar ou mudar de rumo. Reduzir a vida a uma racionalidade raciocinadora de fins, meios, problemas ou programas não é a opção mais adequada. Portanto, “automotriz quer dizer atividade livre: começa em mim mesmo, mas não acaba em mim mesmo; abraça os outros, participa no ritmo, na dança da realidade” (PANIKKAR, 1994, p. 60). Essa é a vida; o resto é fanatismo. (h) Não violenta . Violência não significa simplesmente ausência de força. A violência consiste na violação da dignidade de qualquer ser: pedra, animal, ou ser humano. A não violência, ao contrário, quer dizer escutar o ritmo das coisas, o que infelizmente perdemos. Os moinhos de vento desapareceram, mas podemos utilizar o vento para outras finalidades. Não violência é uma atitude de paciência, de tolerância, que significa assumir e redimir. Ela inclui a paixão, a pressão, a força, o entusiasmo. Mas rejeita seu oposto, a violência, a cegueira que nos leva a conseguir resultados a qualquer preço. Então, nada é absoluto na realidade. Essa vai se forjando pouco a pouco, com nossa colaboração. (i) Recomeçar desde o princípio. Tudo pode ser melhor, mas corre- mos o risco de ignorar o que há de fantástico no dia presente. Além disso, há uma tentação de considerar aquilo que para mim é verdade e pela qual sacrifico minha vida seja a verdade absoluta, para a qual todos devem dar a vida ou ser sacrificados. Se eu volto a começar, não converto meu desejo de transformar o mundo num projeto universalizável, imposto aos outros. Todos os messianismos universais fracassaram. É a vida que está em nossas mãos, não os projetos que concebemos. “A vida nos é dada para viver, não

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