Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Ecosofia na Deep Ecology e a Ecologia Integral da Laudato Si’: convergência nas diferenças 47 rável, a oportunidade decisiva, não começaremos nunca. Trata-se da auto- motivação: resolvo começar por mim mesmo e pelo meu modo de ser. “Sem esperar mudanças, encontrando em mim a força, não importa de onde venha, para mudar” (PANIKKAR, 1994, p. 52). (c) Abrindo este “mim mesmo” a toda a realidade . O “eu mesmo”, a identidade pessoal não é o “ego”, nem o indivíduo. Eu começo a descobrir- -me a mim mesmo quando descubro também o outro, “não como o outro, mas sim como parte de mim mesmo”. Com esse olhar podemos entender o preceito bíblico de amar o próximo como a si mesmo. Porém, eu não posso objetivar-me a mim mesmo, pois “o conceito de mim não sou eu”. “Para abrir-me a mim mesmo a toda a realidade devo perder o medo de perder-me na realidade (..) devo descobrir-me como sujeito, como um eu sobre o qual não tenho posse”. Por isso, uma epistemologia objetivadora não se presta a essa transformação (PANIKKAR, 1994, p. 53). (d) Onde você se encontra . Partiremos sempre de nossa situação real. Um dos fatores que mais paralisa pessoas de boa vontade é que a transfor- mação requerida é tão gigantesca que elas não sabem por onde começar. E elas creem que sua pequena contribuição não vale a pena. Por isso, é preciso começar onde estamos, “pessoalmente, culturalmente, no tempo, no espaço, com essa visão realista de não querer salvar o mundo, e sim de nos inserirmos na realidade concreta (PANIKKAR, 1994, p. 54). (e) Sem pretender prever todas as consequências . Esse é o ponto mais difícil. Não significa começar cegamente, sem relacionar a ação com seus efei- tos, pois os efeitos definem a ação. Devo executar a ação porque descobri seu sentido intrínseco e o imperativo para mim, sem me bloquear por eventuais consequências que não previ. Então, atuaremos “movidos por uma motivação mais profunda do que um simples pragmatismo racional”. O que se pretende fazer com um ato não é o mesmo que suas consequências, pois há muitos fatores externos que influenciarão sobre elas. A postura adequada consiste em assumir as responsabilidades pelas ações, purificando nosso coração e refletin- do sobre nossa intenção, mas sem pretender prever todas as consequências e possibilidades futuras. Minha ação será fruto de tal pureza de coração, que não está motivada por nenhum fim extrínseco nem ambição por resultados. Sinto que faço o que devo fazer nesse momento, e tal ato é verdadeiramente humano e livre. Se não alcançamos essa radical seriedade, toda nossa transfor- mação seria pura veleidade. Somente o sentido da contemplação pode levar- -nos ao envolvimento total de nossa vida e a harmonia entre teoria e prática. Assim, o atuar será fruto do ser e do pensar (PANIKKAR, 1994, p. 56).
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