Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Afonso Murad 46 Cosmoteândrica será, pois, esta visão, esta experiência, de que somos uma parte da Trindade, e que há três dimensões do real: uma dimen- são de infinito e de liberdade, que chamamos divina; uma dimensão de consciência, que chamamos humana; e uma dimensão corporal ou material, que chamamos cosmos. Todos participamos desta aventura da realidade (PANIKKAR apud TEIXEIRA, 2010, p. 372). É bom recordar que, para Panikkar, experiência mística envolve toda a realidade, mantendo-se aberta a todas as questões humanas significativas. “A mística não implica uma fuga do mundo, ou desprezo das realidades terres- tres, mas um mergulho ainda mais fundo nas entranhas do real na tessitura do tempo” (TEIXEIRA, 2010, p. 379). A relacionalidade é mais radical do que a individualidade. Por isso ele sustenta que em todo ser estão, de algu- ma maneira, refletidos, incluídos e representados, os demais seres. Todo nó, dado que através dos fios, está em conexão com toda a rede, reflete, de certa maneira os demais nós. A ecosofia implica integrar três formas de experiência: a sensível, a in- telectual e a mística. A antropologia cosmoteândrica, que também é teologia e cosmologia, concebe o ser humano como corpo, psiquê (alma), sociedade (polis) e vitalidade temporal. Não se reduz à subjetividade. O ser humano se realiza, se assume uma configuração social, pessoal, de tribo, de polis. Seria a política, em sentido amplo (PANIKKAR, 1994, p. 31-32, 41). Na sua obra “Ecosofía. Para una espiritualidad de la tierra”, Panikkar se pergunta: Como transformar esse mundo, sem abandonar-se a si mesmo? Ele responde com um “novenário da transformação” (PANIKKAR, 1994, p. 50-62) 5 . (a) A transformação deve começar pela pessoa mesmo 6 . Se alguém não inicia por si mesmo o processo de transformação, o que se segue é hi- pocrisia ou um álibi para se auto-justificar, pensando que ao menos está fazendo algo de bom. (b) Por meio de si mesmo . Não devemos esperar as mudanças a partir de fora, e sim a partir de nós mesmos. Se aguardamos uma situação favo- 5 Segundo a numeralogia, o nove evoca final de um ciclo e começo de outro. Está associado ao altruísmo, à fraternidade e à espiritualidade. Representa a realização do ser humano e de suas aspirações. “O número nove simboliza poder, esforço, conclusão e, ao mesmo tempo, reflete eternidade. É o número de meses da gestação. Dessa forma, carrega o sentido de esforço e sina- liza o fim de um processo. Representa jornada completa, o seu início e o seu término” (https:// www.dicionariodesimbolos.com.br/numero-9/) . 6 Na versão espanhola do texto: “por uno mismo”.

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