Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Afonso Murad 42 de luta em vista de uma nova humanidade (NAESS; SESSIONS, 1984). Destacaremos aqui os que estão mais intimamente relacionados à ecosofia . Os três primeiros anunciam: ( 1) O bem-estar e o florescimento da vida hu- mana e da não-humana sobre a terra têm valor em si mesmos (valor intrínseco, valor inerente). Esses valores são independentes da utilidade do mundo não-hu- mano para os propósitos humanos. ( 2) A riqueza e a diversidade das formas de vida contribuem para a realização desses valores e são valores em si mesmos. ( 3) Os seres humanos não tem nenhum direito de reduzir essa riqueza e diversidade, exceto para satisfazer necessidades humanas vitais. Daí se infere uma importante orientação para a economia e a políti- ca : ( 6) Em conformidade com os princípios anteriores, as políticas precisam ser mudadas. As mudanças políticas afetam as estruturas básicas da economia, da tecnologia e da ideologia. A situação que resultará desta alteração será profunda- mente diferente da atual. A adesão à plataforma da ecologia profunda exige simultaneamente uma nova mentalidade e um de estilo de vida correspon- dente : (7) A mudança ideológica ocorrerá, sobretudo, no apreciar da qualidade de vida (manter-se em situações de valor intrínseco), em vez da adesão a padrões de vida mais elevados. Haverá uma consciência profunda da diferença entre o grande (quantidade) e o importante (qualidade). Segundo os autores, a ecologia profunda não está estabelecida sobre afirmações imutáveis e inquestionáveis. E sim, a partir de algumas convic- ções consensuais. Por isso, eles incitam seus interlocutores “a elaborar suas próprias versões da ecologia profunda, esclarecer conceitos-chave e refletir sobre as consequências de agir com base nesses princípios” (NAESS; SES- SIONS, 1984, p. 5). O primeiro princípio refere-se à biosfera. Abarca indivíduos, espécies, populações, habitat, bem como humanos e culturas não humanas. Com- porta preocupação e respeito para com todo o ecossistema. O termo “vida” tem sentido amplo, pois se aplica aos seres bióticos e abióticos (NAESS; SESSIONS, 1984, p. 5-6). Todas as espécies, inclusive as simples ou infe- riores contribuem para a riqueza e diversidade da vida. “Elas têm valor em si mesmos e não são meramente passos em direção às chamadas formas de vida superiores ou racionais. E (..) a própria vida, como um processo ao longo do tempo evolutivo, implica um aumento de diversidade e riqueza” (NAESS; SESSIONS, 1984, p. 6). No terceiro princípio, o termo “neces- sidade vital” é deixado deliberadamente vago para permitir a adequação às realidades locais. Devem ser consideradas as diferenças de clima, geográficas e das estruturas das sociedades (NAESS; SESSIONS, 1984, p. 6-7).
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz