Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Afonso Murad 40 e manuais, de ocupações especializadas e não especializadas, de atividades urbanas e não urbanas (NAESS, 2007, p. 99-100). Alan Drengson, um dos membros da Fundação para a Deep ecology (http://www.deepecology.org/) , constituída por Douglas Tompkinsa em 1990 a partir da proposta de Naess, explica o sentido do adjetivo “profun- da”. A ecologia profunda se diferencia da ecologia superficial e de curto pra- zo, que geralmente promove correções tecnológicas com base nos mesmos valores e métodos orientados para o consumo, na economia industrial. A abordagem profunda, de longo alcance, ao contrário, “envolve redesenhar todo o sistema com base em valores e métodos que realmente preservam a diversidade ecológica e cultural dos sistemas naturais” (DRENGSON, 2012). A deep ecology critica “a cultura industrial”, cujos modelos de desen- volvimento interpretam a Terra apenas como matéria-prima a ser usada para satisfazer o consumo e a produção. Esses não visam atender às necessidades vitais, e sim aos “desejos inflados”, cuja satisfação exige cada vez mais consu- mo. As monoculturas destroem a diversidade cultural e biológica em nome da conveniência e do lucro humanos (DRENGSON, 2012). A singularidade do movimento da ecologia profunda reside no reconhe- cimento do valor inerente de todos os seres vivos e na adoção dessa visão na definição de políticas ambientais. As pessoas que se identificam com a deep ecology são motivadas pelo amor à natureza e aos seres humanos. Atuam pen- sando no futuro, naquilo é essencial para proteger a integridade das comuni- dades ecológicas e dos valores ecocêntricos da Terra. Em resposta às críticas ao movimento, Drengson afirma que a deep ecology não despreza o ser humano, em detrimento do ecossistema e dos outros seres . O princípio número 1 da plata- forma de Naess consiste no reconhecimento do valor inerente a todos os seres, incluindo nós, os humanos. Além disso, a não violência de Gandhi norteia o ativismo ecológico em palavras e ações (DRENGSON, 2012). Além disso, tal ecologia adota esse adjetivo porque trata os conflitos ambientais em profundidade , quanto ao nível de questionamento, de propó- sitos e valores, sem ingenuidade ou pragmatismo, pois sabe que a realidade é complexa (cf. a 6ª característica da deep ecology segundo Naess). 2. Ecosofia e a plataforma da deep ecology Como um filósofo, militante e pesquisador, Naess percebe a impor- tância e os limites da ecologia científica, que estuda como interagem todos

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