Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Sinivaldo Silva Tavares 32 verdade, as relações se intercomunicam uma vez que somos nós os sujeitos que as vivemos. De fato, cada vez é a mesma pessoa que se experimenta em uma relação de interioridade para consigo próprio e, ao mesmo tempo, em uma relação intersubjetiva, comunitária, social e cósmica. A pessoa que as vive e que se encontra enredada nas malhas dessa inter-relacionalidade é quem dá unidade às distintas relações. No entanto, tais relações, apesar de vividas pela mesma pessoa, se distinguem umas das outras. E uma vez que constituem cada qual uma relação específica, necessitamos acolhê-las e reco- nhecê-las respeitando a especificidade de cada uma delas. Por essa razão, é fundamental reconhecer a relativa autonomia de uma relação face às outras. E isso não fere minimamente a mutualidade e reciprocidade dessas mesmas relações entre si. Autonomia e mutualidade constituem a complexidade das distintas relações vividas pelo ser humano no quotidiano de sua vida. Daí a conclusão de que cada uma dessas dimen- sões relacionais necessita de intervenções que respeitem seus dinamismo e ritmo próprios. Embora estejam intrinsecamente relacionados, o pessoal, o interpessoal, o comunitário, o social e o cósmico, cada um deles possui dinamismos próprios e regras relativamente autônomas. Não gozam de au- tonomia absoluta, obviamente. Todavia, gozam de uma autonomia relativa. As coisas não se misturam, sem mais. As mudanças não ocorrem sob o assim chamado “efeito dominó”. As transformações se dão também de forma com- plexa, uma vez que os desafios e as possibilidades também são efetivamente complexos. Por essa razão, vale a pena atentar para a advertência feita pelo papa Francisco: Todavia, para se resolver uma situação tão complexa como esta que enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. Os indi- víduos isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social e ambiental. Aos problemas sociais res- ponde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias (LS, 219). Fruto desta peculiar argumentação do papa é a organicidade de seu discurso e a profunda coerência entre o conteúdo de sua reflexão e a meto- dologia por ele empregada. Cumpre, ao final, ressaltar que o próprio papa faz questão de explicitar os eixos que atravessam o inteiro texto da encíclica: [...] alguns eixos que atravessam a encíclica inteira. Por exemplo: a re- lação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de

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