Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Ecologia integral: um novo paradigma 31 O capítulo IV é composto pelos seguintes temas que revelam o que o papa compreende por “ecologia integral”: ecologia ambiental, econômica e social, ecologia cultural, ecologia da vida cotidiana, o princípio do bem comum e a justiça intergeracional. Recorre, mais uma vez, ao exercício de distinções e articulações imprescindíveis para a reta compreensão do que ele propõe como “ecologia integral”. Na sequência, o papa Francisco oferece, no capítulo V, “Algumas li- nhas de orientação e ação”. Trata-se, em síntese, da proposta do encontro e do diálogo entre as várias instâncias, a saber: na política internacional, nas políticas nacionais e locais, nos processos decisórios, entre a política e a economia e entre as religiões e as ciências. E, conclui, no capítulo VI, recordando-nos a importância da “Educação e espiritualidade ecológicas”. Também aqui, o papa distingue iniciativas e políticas locais de outras glo- bais. Essa distinção se torna deveras importante quando se busca uma maior efetividade das mesmas, fruto de uma correta e sadia articulação entre o local e o global. Nesse sentido, o papa Francisco alerta-nos para a necessária e urgente construção de um paradigma de desenvolvimento alternativo com respeito ao atual modelo de desenvolvimento. Trata-se de uma verdadeira conversão do atual modelo de desenvolvimento global. E os elementos que, segundo o papa, caracterizarão esse modelo alternativo de desenvolvimento global são, entre outros, a concepção do ambiente como um bem coletivo, a defesa do trabalho e dos povos indígenas e, por fim, o papel dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil. Estes dois últimos elementos, de modo particular, viriam preencher o vazio político denunciado com veemência pelo papa Francisco na encíclica. 2.2.2. Autonomia e mutualidade entre as distintas relações Dos vários temas tratados no último capítulo da encíclica, destacamos aquele da “conversão ecológica” (SUSIN, 2016, p. 40-51). Tema novo e desafiador que, segundo o papa, constitui condição irrenunciável para uma conversão integral. Nesse tópico, o papa Francisco recorre mais uma vez a suas sutis distinções e articulações. No caso, ele distingue a autonomia da mutualidade entre as várias dimensões que compõem a relacionalidade constitutiva de seres humanos. A complexidade de nossas relações exige que toda autonomia seja relativa, isto é, relacional, sob o pressuposto da vigência de uma intrínseca reciprocidade entre todas elas em seu conjunto. Pois, na
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz