Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Sinivaldo Silva Tavares 30 correspondam aos apelos mais genuínos da fé cristã. Trata-se, em suma, de ser honesto face à realidade discernindo no aqui e agora os apelos do Deus de Jesus Cristo. No capítulo III, “A raiz humana da crise ecológica”, o papa inicia dis- tinguindo vantagens e desvantagens produzidas pela tecnociência. Interes- sante notar que o papa Francisco não é anti-moderno, posto que reconhece os avanços produzidos pela técnica na melhoria das condições de vida, no aumento do bem-estar e da expectativa de vida. Contudo, ele não é ingênuo. Desmascara o interesse último da tecnociência que é controle e poder sobre a vida em todas as suas dimensões e expressões. Ele chega a caracterizar o paradigma hegemônico de nossa civilização contemporânea como sendo tecnocrático. Nesse contexto, ele situa a crise do antropocentrismo moderno e suas consequências 3 , bem como do relativismo prático. Lembra a neces- sidade de defender o trabalho e menciona as questões ligadas à inovação biológica a partir da pesquisa. Essa visão/discernimento, portanto, se conclui com o capítulo IV, “Uma ecologia integral”. Trata-se da proposta que o papa faz a partir da compreensão crítica da crise ecológica confrontada com os valores do “Evangelho da Criação”. A esse propósito, ele distingue o “clamor do pobre” do “clamor da terra”. Ele não os separa nem os confunde. Ele os distingue para poder articulá-los mais e melhor em vistas de uma sadia potencializa- ção recíproca entre ambos (BOFF, 2016, p. 15-23). Entre tantos textos no decorrer da encíclica que distinguem e articulam a questão ambiental com a questão social, elegemos um que se destaca pela contundência da expressão do papa: Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma úni- ca e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza (LS, 139). 3 No capítulo terceiro da Laudato Si’ , intitulado “A raiz humana da crise ecológica”, o papa dedica um inteiro parágrafo à crise do antropocentrismo moderno e suas consequências (LS, 115-123). Ali, ele critica tão duramente o antropocentrismo moderno que, na sequência, se sente na ne- cessidade de alertar-nos contra o risco da concepção oposta que negaria a dignidade peculiar da pessoa humana no complexo da criação (RIBEIRO DE OLIVEIRA, 2016, p. 90-102). São contundentes as palavras do papa, a este propósito: “Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada” (LS, 67). E ainda: “Esta responsabilidade perante uma terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo” (LS, 68).
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