Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Ecologia integral: um novo paradigma 29 No capítulo I, o papa distingue os principais sintomas da crise ecológi- ca global: poluição e mudanças climáticas, a questão da água, perda da bio- diversidade, deterioração da qualidade de vida humana e degradação social, desigualdade planetária. Constata, ao final, a fraqueza das reações e a diver- sidade de opiniões sobre a crise ecológica global. Por meio dessas distinções, ele capta fenômenos reveladores de uma crise mais profunda que, por isso mesmo, necessita não só de uma análise mais aguda e profunda propiciada pelos vários saberes, mas também de uma visão contemplativa oriunda da tradição de fé cristã. Nesse particular contexto, se insere o capítulo II, com o sugestivo títu- lo de “O Evangelho da criação”. Após justificar a contribuição que a fé cristã pode oferecer ao rico mosaico das perspectivas culturais atuais, o papa des- taca a sabedoria oriunda das narrações bíblicas que nos falam de “criação”, fonte a partir da qual emergem as dimensões constitutivas da visão cristã acerca das realidades criadas, a saber: o mistério do universo, a singularidade de cada criatura no conjunto harmonioso da inteira criação, a comunhão universal e o destino comum dos bens. Aqui também o papa distingue as várias dimensões da cosmovisão cristã para compreendê-las integralmente mediante a articulação entre todas elas. E conclui o capítulo, remetendo- -nos ao “olhar de Jesus”, referência permanente para toda perspectiva que se pretenda cristã. Uma vez explicitada a compreensão cristã da criação, o papa se propõe a ver mais profundamente o que está acontecendo com nossa casa comum . Trata-se agora de uma visão mais aguda e penetrante, pois, depois de consi- derar os sintomas da atual crise e de rememorar as fontes cristãs no que diz respeito à criação, o papa busca atingir as raízes da crise ecológica. Trata-se, em nossa opinião, de um ver duplamente crítico. Ele é crítico, em primeiro lugar, por querer ir além dos simples sintomas, daqueles fenômenos que simplesmente aparecem diante de nossos olhos. O papa quer ver melhor e ver bem as raízes desses fenômenos que, juntos, constituem a crise ecológi- ca. E essa peculiar visão ele alcança mediante o recurso a um instrumental analítico rigoroso e crítico. Mas o ver do papa é crítico, ademais, posto tratar-se de visão pro- vocada e sustentada pela fé em seu legítimo desejo de lucidez e eficácia. Nesse caso, não se quer ver mais e melhor apenas para se ter uma visão mais crítica e pertinente da realidade que nos cerca. Quer-se ver mais e melhor para, com maior lucidez e eficácia, tomar decisões e assumir posições que façam jus à gravidade e urgência dessa crise ecológica e, ao mesmo tempo,

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