Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Casa comum: um conceito interdisciplinar e pluriverso 19 esta casa comum que sofre extinções, injustiças e profundas fragmentações socioambientais. Na leitura religiosa isto é um desrespeito, ofensa e pecado contra a obra do Criador, sendo também um sinal de rompimento da grande Aliança que Deus fez com o homem e todos os seres viventes, conforme o relato bíblico de Gênesis, capítulo 9. Cabe a nós, nesse momento, curar as cicatri- zes e procurar reatar alianças para que a casa comum seja mais equilibrada e sustentável. No âmbito da sociedade, mesmo com algumas tendências naciona- listas onde os Estados nacionais tendem ao fechamento de suas fronteiras geográficas, fragmentando a concepção de casa comum solidária, não se pode negar que o processo de globalização, por mais danoso que seja para as cul- turas locais, tem ajudado a socializar o conceito da Terra como um espaço planetário comum, hoje disseminado em todas sociedades. Paradoxalmente, quanto mais a humanidade experimenta os limites das mudanças do clima, do consumo excessivo, da escassez de água e as consequências das grandes pandemias, mais cresce a consciência que fazemos parte desta casa comum , vulnerável física e antropologicamente. Curiosamente, as diferentes religiões da humanidade, com base nas suas tradições, incorporaram, nas diversas explicitações teológicas e práti- cas religiosas e sacramentais, o conceito de casa comum , resgatando a re- lação entre Criador e criaturas. De maneira particular, a tradição judaico- -cristã fundamenta-se em um Deus Criador da casa comum , no qual todas as criaturas espelham o amor e a bondade divina, cabendo ao ser humano, criado à imagem e semelhante de Deus, a missão de cuidar e adminis- trar com responsabilidade desta grande casa planetária, não como dono e proprietário, mas como guardião deste patrimônio da criação. Assim, o tema da guardianidade passa a ter cada vez mais importância, sobretudo em um cenário de alterações e modificações que vêm desequilibrando as cadeias vitais e as inter-relações geo-biológicas e climáticas da casa comum de todos nós. Com publicação da Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco e, diante da grave crise socioambiental em que vivemos, a missão de guardiões da casa comum passa a unir crentes e não crentes, compartilhando as preocupações científicas com as preocupações religiosas. No documento aparecem os prin- cípios éticos de nossa responsabilidade para com a casa comum . São eles: 1) a importância de resgatarmos uma visão integradora onde todas as coisas estão interligadas e, portanto, não existe uma separação entre o ambiental e
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