Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Pautando tomadas de decisão em empreendimentos energéticos:... 141 Vê-se, portanto, que o utopismo edificado é conjugado com o pro- cesso antientrópico de construção da técnica, segundo o qual, nas palavras de Jonas, o movimento interior de um sistema, entregue a si mesmo e não perturbado desde o exterior, conduz normalmente a estados sempre “supe- riores” e não “inferiores” de si mesmos. Em outras palavras, a técnica empreendida de enchimento do lago com a floresta em pé dentro dele, seguindo a ciência da modelagem ma- temática das longas cadeias da razão cartesiana, serve para que o próprio projeto global idealista de progresso de produção de energia elétrica na bacia Amazônica se torne autoevidente (processo antientrópico), numa justifica- ção racional fechada, que segue num crescendo até alcançar o seu objeto maior, que é o licenciamento ultimado (Licença de operação), demonstran- do a clara união de técnica e ciência num potencial de infinitude para suas progressivas inovações, já que esse modelo tecnológico será reproduzido em futuras UHE’s no Brasil. Interessante é nessa análise jonasiana ver o produto final gerado pelo empreendimento: a eletricidade. Esta o próprio Jonas elenca como bem imaterial que cria um reino novo de objetos e necessidades pela eletrônica, sua filha, e que pode facilmente matar o seu criador, transformando o que era antes a vida de um rio em rastro de caldo podre. Conclusão A análise da relação entre o homem e a natureza remonta ao início do Aufklärung setecentista e seu modelo cientificista demolidor do subjetivismo e de tudo mais que respirasse pensamento, representado pelo mote kantiano da razão do sapere aude e atingindo todos os padrões: científicos (Newton), sociais (Rousseau), costumes (Diderot) e religiosos (Voltaire). Desse fenômeno, destacam-se dois herdeiros: Kant e Jonas. O primeiro porque chamou para si a responsabilidade sobre parte des- se conteúdo revolucionário e apresentou um conhecimento filosófico inédi- to, puro, separado de suas impressões empíricas que pudessem contaminá-lo e que prejudicassem a universalização de suas máximas morais. Colocando o homem como o centro do universo e perdendo-se o medo da natureza pela razão instrumental, houve a abertura para a explo- ração dos recursos naturais e, consequentemente, o seu esgotamento e os efeitos colaterais catastróficos, criando novos conceitos de soberania dos Es- tados, tecnologia e de crise no meio ambiente.
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