Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Joelson de Campos Maciel 140 totalmente a cobertura vegetal que seria alagada com a formação do lago, cerca de 23 mil hectares de terras, embora haja lei que determine a supressão vegetal total nesses casos (JONAS, 2006, p. 85, 86). Assim, apresentou estudos de modelagens matemática os quais, por meio de complexos cálculos de projeções de variáveis ecológicas, demonstra- riam que o oxigênio da água não seria comprometido à jusante da barragem caso houvesse o alagamento com a vegetação. Contudo, no presente caso, houve algumas variáveis não levadas em conta, especialmente as relativas aos peixes reofílicos (de corredeiras), o que tornaria o modelo insatisfatório para a análise da projeção da quantidade de oxigênio na água quando houvesse o enchimento sem a retirada da vegetação (floresta) (ANGELINI, 2018). Após longo debate e estudos técnicos apresentados pelo Ministério Pú- blico e realizados por Fearnside (2019), apontando, também, em casos pas- sados semelhantes, que a supressão vegetal total seria necessária para manter o mínimo de qualidade de oxigênio na água à jusante, o órgão ambiental estadual (Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA) autorizou o enchi- mento do lago sem que houvesse a retirada total da vegetação na área alagada. O resultado dessa ação não foi outro: a mortandade de aproximada- mente 13 toneladas de peixes e destruição da ictofauna em vários quilôme- tros de rio à jusante da barragem causada pela água apodrecida da vegetação submersa no lago formado (PORTAL G1 MT, 2019). Nesse caso concreto, percebemos o conceito de utopismo implícito tra- zido por Jonas. Isso porque o empreendedor apresentou estudos de modela- gem matemática que garantiriam que não haveria queda da porcentagem de oxigênio na água à jusante da barragem, embora houvesse estudos de Fear- nside (2019) que dissessem exatamente o contrário com dados concretos. Optou-se pelo primeiro estudo, porque se acreditou também que o próprio processo de enchimento do lago poderia ser monitorado e, caso houvesse algum problema com a queda do oxigênio na água à jusante, a ciência estaria pronta para salvar o rio. Desse utopismo construído, houve um resultado trágico para a vida e para as futuras gerações rio abaixo da usina, especialmente comunidades tradicionais vulneráveis, aplicando-se o conceito de “racismo ambiental”. O antropocentrismo dos estudos da modelagem matemática não le- vou em conta os vários componentes extra-humanos revelados nos estudos de Fearnside (liberação de gases de efeito estufa produzidos pela vegetação submersa, metilização do mercúrio, anoxia etc) e, por sua não observância, provocou a morte do próprio rio naquele trecho.

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