Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1

Pautando tomadas de decisão em empreendimentos energéticos:... 133 Mas é na forma de conhecer a realidade, de produzir o conhecimento, ou seja, na epistemologia, que houve a maior transformação trazida pelo Aufklärung. Nesse norte, o seu maior representante e entusiasta foi Immanuel Kant (1724-1804), que chamou para si a respo n sabilidade sobre parte desse con- teúdo e apresentou um conhecimento filosófico inédito, puro, separado de suas impressões empíricas que pudessem contaminá-lo e que prejudicassem a universalização de suas máximas morais, impedindo o homem de alcançar a maioridade intelectual reivindicada no slogan que Kant mesmo reproduz: sapere aude (KANT, 1784) . Kant, ao mesmo tempo em que limpou os sistemas filosóficos de sua época das transcendências de fundamento teológico, injustificáveis pela ra- zão, propôs a sua máxima de homem como fim em si mesmo, dentro da moralidade prática com tentação para a universalização quando escreveu a Fundamentação da metafísica dos costumes: Agora eu digo que o homem, e, em geral, todo ser racional, existe como fim em si mesmo e não somente como meio para qualquer uso deste ou daquela vontade, e deve ser considerado sempre ao mesmo tempo como fim em todas as suas ações, não somente as dirigidas a si mesmo, mas também as dirigidas aos demais seres racionais (KANT, 2008, p. 105, tradução livre). Embora essa frase kantiana seja citada e aclamada em quase todos os manuais sobre direitos humanos, há nela alguns aspectos importantes que a fazem não tão nobre e desejável assim. Primeiro, se o homem é um fim em si mesmo, todo o resto, tenha vida ou não, é considerado meio, instrumento do homem, razão instrumental, muito criticada pelos chamados filósofos de Frankfurt no século XX. Segundo, por essa afirmação kantiana, somente o homem possui valor moral e, por conseguinte, as coisas passam a contar como nulas ou simples- mente indiferentes em valores morais, ou seja, a ética não leva em conta os fatores extra-humanos em sua disciplina, o que chamamos de antropocen- trismo clássico. Por último, deve-se levar em conta que somente o homem, o ser ra- cional, o que só existe enquanto pensa (Descartes – cogito ergo sum ), pode determinar o que são os objetos e estes passam a ser conhecidos em seus fenômenos e não há mais uma relação binária e mesmo simétrica entre a razão que conhece e o que é conhecido. Quebrou-se a harmonia do cosmos

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