Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck 106 em contribuições de autoras negras e autores negros que bebem das lutas do Movimento Negro, tais como Abdias do Nascimento (1968; 2004), Abert Guerreiro Ramos (1995), Lélia Gonzalez (2018), Petronilha Beatriz Gon- çalves e Silva e Luiz Alberto Oliveira (2000) e Djamila Ribeiro (2019) e demais intelectuais brasileiras(os) e norte americanas(os) referidos ao longo do texto. A escolha da história emblemática de Sarah Baartman foi uma esco- lha provocativa e quer interrogar visceralmente a experiência de mulheres negras dentro dos espaços de saber, a exemplo das universidades, onde se reproduz muitas vezes uma sofisticação perversa daquilo que Sarah viven- ciou. As mulheres negras muitas vezes continuam com a impressão de esta- rem enjauladas, apesar de em formas mais sofisticadas, em uma permanente atualização de Sarah Baartman. Também buscamos traçar uma releitura da obra de Freyre (2019), pois consideramos que a obra, para além das questões racistas e sexistas muito já discutidas dentro da academia, continua sendo uma forma de aprisionar mulheres negras através das imagens de controle contidas nela. O título desta obra “Casa Grande e Senzala”, como referimos, expressa uma simbo- logia forte que permeia toda a nossa sociedade até nossos dias e é uma bela referência para refletir sobre racismo ambiental e racismo estrutural. Ao trazermos ao centro de nossa reflexão a provocação da “ casa co- mum ”, firmamos a convicção de que para se chegar a ela é fundamental, entre outras coisas, que se passe pela (re)educação das relações étnico-raciais, visto que a efetivação de um projeto de sociedade que abarque todos só pode ser possível com a superação da estrutura mental e social que relega a população negra ao ambiente das senzalas das periferias, enquanto no centro branco, o ambiente é preservado, cultivado, seguro e protegido muitas vezes por muros, sejam eles reais ou simbólicos. Se o conceito de “ casa comum ” for levado a sério, não poderá haver espaço para a reprodução de práticas colonialistas que concebem o ambiente como espaço de poder e exploração. Contudo, ao discutirmos neste artigo focando no espaço acadêmico e observando como este articula as relações de poder e privilégios da popula- ção branca – assim como nos demais espaços da sociedade – conjecturamos as possibilidades de transformações dentro deste espaço por distintos vieses que conversam entre si. Vislumbramos que as contribuições teóricas e polí- ticas do feminismo negro, com a inserção de seus conceitos e categorias na matriz das disciplinas, e o ingresso de estudantes negros e negras, que ao
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