Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck 102 um projeto de “ casa comum ” interdependente, não só de reação aos males causados, mas de construção conjunta envolvendo de forma articulada toda a realidade humana: Um mundo interdependente não significa unicamente compreender que as consequências danosas dos estilos de vida, produção e consu- mo afetam a todos, mas principalmente procurar que as soluções sejam propostas a partir duma perspectiva global e não apenas para defesa dos interesses de alguns países. A interdependência obriga-nos a pensar num único mundo, num projeto comum (LS, 164). Quanto aos interesses de outros países em se coadunarem na lógica da “ casa comum ”, cabe salientar que não foi somente o Brasil que se construiu calcado na lógica da divisão entre “casa grande e senzala”. Muitos países so- freram o processo da colonização, enquanto outros, até hoje, sendo os seus beneficiários. Alguns propõem que uma reconfiguração deveria partir do norte global, visto que historicamente ali estão concentrados os detentores de políticas e danos ambientais e sociais. Uma nota sobre racismo ambiental e o racismo estrutural As práticas de coisificação com relação à Sarah Baartman, com o corpo de Baartman posto em ambiente engaiolado para servir de divertimento e exploração comercial e científica de uma sociedade de britânicos brancos e brancas, expressam a relação de dominação entre dois ambientes radical- mente opostos e incomunicáveis. Trata-se de um claro corte de dominação racial marcando dois ambientes, o humano e o não-humano, objeto de di- versão e de exploração. O título da obra de Gilberto Freyre, “Casa Grande e Senzala”, que expressa uma simbologia tremenda que perpassa a sociedade brasileira até nossos dias, aponta para diferentes ambientes desiguais, mas silenciosa e harmonicamente controlados, que refletem uma imposição normal da de- sigualdade racial. Isto nos convida para uma reflexão focando o racismo ambiental nas próprias academias. Reportamo-nos à obra de Sheryda Lopes (2014). O ra- cismo debatido pela autora tem enfoque nos territórios dos povos indígenas, mas sua reflexão tem tudo a ver com o que estamos desenvolvendo. A autora conceitua o “racismo ambiental” quando ocorrem “práticas ofensivas ao meio
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