Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 1
Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck 100 Na perspectiva da “ casa comum ”, os ritmos com os quais a sociedade tem degradado o planeta, promovem catástrofes ambientais e desigualdades que recaem de forma contundente sobre as classes de menor poder aqui- sitivo. Deste modo, a encíclica expõe a relação de degradação ambiental conjuntamente com a degradação social, intercalada com a questão racial. A preocupação está expressa na realidade social vigente na qual as alterações climáticas e a destruição do ecossistema não se desenvolvem por si, mas são frutos da intervenção humana que recaem, sobretudo, com efeitos alta- mente degradantes sobre a população residente em periferias, compostas em grande parte pela população negra. A “senzala” de hoje são as grandes favelas e os contextos degradados de vida humana em nossas periferias. É o que o pesquisador Henri Acselrad (2020) tem definido em suas pesquisas, como: “efeitos de uma proteção desigual duradoura, disposta no tempo, continua- da e capaz de marcar drasticamente a história social dos corpos de negros e pobres” (ACSELRAD, 2020, p. 1). Através desta compreensão, com a qual nos alinhamos, se torna necessário nominar a população branca como principal beneficiária dessa proteção desigual duradoura, que se mantém em continuidade através das gerações, sem questionar a origem histórica de seus privilégios e tampouco os efeitos sobre os não beneficiários (principalmente populações negra e indígena) desse projeto de exploração. A proteção desigual duradoura aponta uma dimensão político-geo- gráfica dessa desigualdade, que não afeta apenas os sujeitos individuais, mas têm alcance mais amplo, se refletindo, sobretudo, nas relações entre os países em nível internacional. Existe uma grande dívida internacional, em termos ecológicos, entre norte e sul. Isto é amplamente discutido e conhe- cido. Neste sentido, compreendemos a complexidade e amplitude que esse panorama pode atacar a vida das pessoas negras, sobretudo as que vivem no Sul Global, do qual partilhamos nossas experiências. Trata-se de uma demanda que afeta os projetos da população negra e, sobretudo os projetos das mulheres em geral e os projetos das mulheres negras. Seguindo esta matriz de pensamento, refere-se ainda a população negra e sobretudo as mulheres, se refere aos direitos reprodutivos, os quais geralmente são discutidos como mais um problema que influencia altos ín- dices de natalidade. Na encíclica o tema é abordado a partir do exposto que: Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo di- ferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvi- mento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de ‘saúde reprodutiva’. (LS, 50).
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