Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Tecnologias de biorremediação e fitorremediação aplicadas à remoção de pesticidas e microplásticos... 99 No que concerne à persistência, o destino dos pesticidas é dependente do tipo de solo, das condições edafo-climáticas, e das práticas agrícolas utilizadas. Por exemplo, a adsorção de pesticidas tende a ser maior quando os teores de ma- téria orgânica no solo são maiores e, no caso de pesticidas ionizáveis (como o 2,4-D,2,4,5-T, o picloram e atrazina), quando o pH diminui (ANDREU; PICÓ, 2004, p. 774). Os pesticidas e metabólitos derivados possuem polaridades diver- sas, desde os altamente apolares, aos solúveis em água, podendo ser agrupados em: 1) hidrofóbicos, persistentes e bioacumuláveis – que estão fortemente ligados ao solo, e incluem organoclorados como o DDT, o endosulfan, endrin, heptaclo- ro, lindane e derivados, e que hoje estão na larga maioria com o seu uso proibido na agricultura, embora os seus resíduos e efeitos permaneçam; 2) polares, nor- malmente representados por herbicidas, carbamatos, fungicidas e alguns insetici- das organofosforados, que, por serem mais móveis, são transportados pelo escoa- mento superficial ou lixiviados, contaminando as águas subterrâneas (ANDREU; PICÓ, 2004, p. 774; MELO et al. , 2010, p. 109; RAJMOHAN; CHANDRA- SEKARAN; VARJANI, 2020, p. 125). De um modo geral, os pesticidas serão capazes de contaminar os corpos hídricos subterrâneos (por lixiviação), quando o seu coeficiente de sorção for baixo, a sua meia-vida for longa e a sua solubilidade em água, alta (LIU et al. , 2019, p. 2). Nas últimas décadas, diferentes atividades humanas têm contribuído de forma massiva para a incorporação nos solos, não só de pesticidas, mas de uma ampla variedade de resíduos e contaminantes químicos orgânicos e inorgânicos, assim como de resíduos plásticos (WANG et al. , 2019, p. 848). Os plásticos são polímeros orgânicos sintéticos muito versáteis, duráveis e resistentes, leves e trans- parentes, ideais para serem usados numa gama muito extensa de aplicações. As- sim, quando na forma de resíduos, são também extremamente persistentes no ambiente, degradando-se muito lentamente nos solos (GUZZETTI et al. , 2018, p. 168). De fato, a utilização de filmes plásticos ( mulching ) e a aplicação de biossó- lidos nas áreas agrícolas, aliados à disposição de resíduos sólidos urbanos à produ- ção de efluentes domésticos e industriais, entre outras atividades, contribuem para a uma extensa disseminação e contaminação de vários ecossistemas terrestres com resíduos plásticos (ZHANG et al. , 2019, p. 64; ZHU et al. , 2019, p. 741). Uma vez nos ecossistemas agrícolas, processos naturais como a foto-oxidação por ra- diação UV, diferentes forças físicas e mecânicas aí existentes e ainda a degradação biológica operada mediante consórcios microbianos reduzem esses resíduos, de ta- manho macro, a fragmentos e materiais particulados nos tamanhos micro e nano, comumente designados de micro e nanoplásticos (RAMOS et al. , 2015, p. 79; VERLA et al. , 2019, p. 1), que, como os resíduos que lhes deram origem, podem persistir por longos períodos no ambiente, porém com destinos e propriedades toxicológicas ainda bastante desconhecidas (SÁ et al. , 2018, p. 1029; SILVA et al., 2018, p. 15). Apesar da escassez de informação relativa a este assunto, é altamente provável que micro (MPs: 1 a <1000 μm) e nanoplásticos (NP: 1 to <1000 nm) de fontes difusas possam agir de forma sinérgica com os fatores físicos, químicos e biológicos dos solos e, obviamente, com os pesticidas, necessitando-se, por essa razão, aprofundar a nossa compreensão a respeito da extensão, grau e efeitos des-
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