Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Bruno Miguel Garcia Barbosa, Vanusca Dalosto Jahno e Ana Luísa Almaça da Cruz Fernando 98 dúvida, a atenção da comunidade científica, das autoridades de proteção sanitárias e ambientais (ANDREU; PICÓ, 2004, p. 772). Com efeito, a aplicação nos sis- temas agrícolas de compostos como: a) poluentes orgânicos persistentes (POPs): DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), aldrin, clordano, dieldrin, endrin, hepta- cloro, mirex e toxapene; b) produtos químicos industriais como hexacloroben- zeno (HCB) e o bifenilo policlorinado (PCBs); e, c) subprodutos de compostos clorados da produção de herbicidas, como as dioxinas e furanos tem estado as- sociada a: 1) efeitos negativos nas comunidades bacterianas e de protozoários do solo, em consórcios fúngicos, micorrizas e processos fotossintéticos nas plantas; 3) nos ciclos de nutrientes dos solos e enzimas; 3) no funcionamento e qualidade de sistemas lênticos, lóticos, e águas subterrâneas; e, 4) diferentes problemas de saúde em humanos, incluindo asma e outros distúrbios respiratórios, efeitos carcinogé- nicos, diabetes, e doença de Parkinson (RIAH et al. , 2014, p. 258; RAJMOHAN; CHANDRASEKARAN; VARJANI, 2020, p. 130). O destino dos pesticidas e metabólitos derivados nos solos é dependente das dinâmicas química, biológica e física existentes nesse meio (KHALID et al. , 2020, p. 3). Tais interações e processos do solo afetam em determinado grau a per- sistência dos pesticidas, incluindo a persistência química e a degradação por con- sórcios microbianos, afetando as respectivas mobilidades, mediando ainda proces- sos de sorção, extração por organismos vegetais, volatilização e erosão pelo vento, escoamento superficial e lixiviação (JOHNSEN et al. , 2001, p. 448). Todas estas informações são de importância fundamental para a efetiva extração e imobiliza- ção desses poluentes nos solos. De fato, após pulverização dos solos agrícolas, cerca de 80-90% dos pesti- cidas comumente usados (incluindo inseticidas, herbicidas e fungicidas) sofrem volatilização significativa, causando uma redução na sua eficácia, criando conse- quências em diversos organismos não alvos (DAS e HAGEMAN, 2020, p. 7302), assim como na camada de ozono (MELO et al. , 2010, p. 113). Após volatilização, comum nas regiões mais quentes, muitos pesticidas entram no transporte atmos- férico de longo alcance, para depois condensarem em latitudes mais temperadas e frias, como as Árticas, onde ocorre a sua bioacumulação por zooplâncton, espé- cies de peixes, e outros organismos – um processo mediante o qual a população de consumidores secundários tenderá a aumentar e a de consumidores primários, a diminuir (LANDEROS; DÍAZ; BILYEU, 2019, p. 4). Nos solos, uma fração dos pesticidas será degradada biologica e quimi- camente, enquanto outra persistirá, por razões distintas. A degradação química ocorre através de reações de fotólise, hidrólise, oxidação e redução (RIAH et al. , 2014, p. 259). A degradação biológica ocorre somente quando estão presentes mi- cro-organismos no solo, capazes de consumir e decompor estes compostos. Estas comunidades microbianas distribuem-se normalmente nas camadas mais super- ficiais do solo, onde a matéria orgânica lhes serve de fonte de energia e carbono (LIU et al. , 2019, p. 2). Assim, por causa destes fatores, a extensão do processo de degradação de pesticidas operado por consórcios microbianos varia entre a for- mação de metabólitos e a decomposição em produtos inorgânicos, como metais pesados, que não são degradados.
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