Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Nanoagroquímicos e risco: uma (necessária) leitura a partir da sustentabilidade... 87 nutrientes de terras cultivadas, fertilizadas e pastagens cheias de esterco, esses “na- nopesticidas” também podem significar surtos de algas mais tóxicos para córregos, lagos e áreas úmidas próximas. Essas interações podem intensificar a proliferação de algas nocivas nas zonas úmidas (CEINT, 2018). Para lidar com as novidades trazidas pela nanoescala, especialmente na área de alimentos e embalagens (e aqui a preocupação com as questões do lixo e sua destinação final), será fundamental iniciar um trabalho sério por meio da chama- da avaliação e gestão dos riscos (NOWACK et al. , 2012). Esse tema deverá ingressar na seara jurídica, buscando-se a aprendizagem já gerada na área da Administração, devendo iniciar no laboratório, onde as pes- quisas são especificadas, passar pelo setor industrial e, finalmente, chegar ao mer- cado consumidor, ao uso e descarte, ou seja, atingindo a integralidade do ciclo de vida de um nanomaterial. A avaliação e a gestão dos riscos dos produtos nanoagroquímicos não é possível dissociada da análise dos produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, inclusive e principalmente considerando a destinação final. As inúmeras embala- gens dos produtos que contêm nanotecnologias podem ser fontes muito impor- tantes de contaminação ambiental, basta verificar-se, ao longo da história recente da humanidade, o grande problema das embalagens de agrotóxicos, por exemplo, bem como de medicamentos. Muitos contaminantes chegam aos cursos de água e ao ambiente através da destinação inadequada das embalagens. Assim, os nanoagroquímicos podem estar sendo agentes geradores de pro- blemas ecológicos ainda maiores que os químicos que substituem, pois podem deixar resíduos mais persistentes e criar novos tipos de contaminação de solos e águas e na cadeia alimentar, assim como podem ter efeitos tóxicos contra as espé- cies não alvo. E, se forem biopersistentes, se estará lidando com uma nova forma de contaminação perigosa de solos e águas. Em relação aos produtos nanoagroquímicos, é necessário que, quando, por exemplo, os nanotubos de carbono forem adicionados ao solo em experimentos de laboratório para determinar se irão aumentar as taxas de germinação de se- mentes, a avaliação tecnológica sobre tais experiências investigue também como estas partículas nanoengenheiradas afetarão os diversos reguladores biológicos e químicos do solo. Devido à natureza persistente de alguns destes contaminantes, repetidas aplicações para o mesmo pedaço de terra podem aumentar os níveis de contaminação do solo e, possivelmente, os níveis de contaminação de alimentos durante séculos vindouros (SUPAN, 2013). Ainda são muitas as lacunas existentes e, em geral, dizem respeito à meta- bolização e excreção, estudos de biodistribuição, comportamento e destino am- biental, efeitos em demais espécies vegetais e animais (incluindo os insetos be- néficos para outras culturas e a microbiota do solo), métricas de quantificação ambiental, mecanismos de remoção, toxicidade aguda e crônica, mudanças das propriedades em função do ambiente, biocaptação, bioconcentração e bioacumu- lação, mecanismos de toxicidade. Restam dúvidas quanto ao manuseio e destino das embalagens: devem seguir as mesmas recomendações dos produtos agroquí- micos? Quanto aos testes de riscos de toxicidade, sabe-se que, atualmente, não são
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