Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Leonardo Cordeiro de Gusmão e Émilien Vilas Boas Reis 60 taminantes, havendo necessidade, portanto, de evitar ao máximo a exposição a resíduos de agrotóxicos por meio da dieta (GUSMÃO, 2018, p. 77). Assim, revela-se indispensável que se promova a superação gradual do mo- delo agrícola convencional embasado no uso intenso de agrotóxicos, oriundo da Revolução Verde que, apesar de sua relevante contribuição ao desenvolvimento humano, verificado desde a década de 1950, tornou-se perigoso para o meio am- biente e para a saúde e a vida das atuais e futuras gerações. Para tanto, faz-se im- prescindível a criação e efetiva aplicação de políticas públicas com tal propósito. Considerando a certeza científica quanto à periculosidade inerente aos agro- tóxicos, bem como a dúvida científica razoável quanto à eficácia dos parâmetros de segurança fixados para evitar quadros de intoxicação aguda e crônica, pode-se afir- mar que a promoção de uma agricultura sustentável, capaz de garantir às pessoas efetiva segurança alimentar – aspectos quantitativos e qualitativos –, passa, necessa- riamente, por uma política de redução progressiva do nível de utilização de agrotó- xicos pelo setor agrícola – à semelhança do que se pretende fazer com a substituição gradual de combustíveis fósseis por fontes de energia limpas, incluindo renováveis. Poder-se-ia questionar se é faticamente possível a produção de alimentos sem a utilização de agrotóxicos, especialmente ao considerar o crescimento demográfi- co no Brasil, assim como no resto do mundo. De acordo com a ONU, o sistema agroecológico não apenas é eficiente no quesito produtividade, como também se re- vela como um modelo agrícola sustentável, não dependente do uso de agrotóxicos: Práticas mais seguras existem e podem ser desenvolvidas para minimizar os impactos do uso excessivo, em alguns casos desnecessários, de agrotóxicos que violam diversos direitos humanos. Um aumento nas práticas agrícolas orgâni- cas em muitos lugares ilustra que a agricultura com menos ou sem agrotóxicos é viável. Estudos indicaram que a agroecologia é capaz de fornecer rendimentos suficientes para alimentar toda a população mundial e garantir que eles sejam adequadamente nutridos. A afirmação promovida pela indústria agroquímica de que os pesticidas são necessários para alcançar a segurança alimentar não é apenas imprecisa, mas perigosamente enganosa. Em princípio, há comida adequada para alimentar o mundo; os sistemas de produção e distribuição não equitativos apresentam grandes bloqueios que impedem o acesso de pessoas necessitadas. Ironicamen- te, muitos dos que têm insegurança alimentar são, na verdade, agricultores de subsistência envolvidos no trabalho agrícola, particularmente em países de bai- xa renda 8 (ONU, 2017, p. 19, tradução nossa). 8 Safer practices exist and can be developed further to minimize the impacts of such excessive, in some cases unnecessary, use of pesticides that violate a number of human rights. A rise in organic agricultural practices in many places illustrates that farming with less or without any pesticides is feasible. Studies have indicated that agroecology is capable of delivering sufficient yields to feed the entire world population and ensure that they are adequately nourished. The assertion promoted by the agrochemical industry that pesticides are necessary to achieve food security is not only inaccurate, but dangerously misleading. In principle, there is adequate food to feed the world; inequitable production and distribution systems present major blockages that prevent those in need from accessing it. Ironically, many of those who are food insecure are in fact subsistence farmers engaged in agricultural work, particularly in lower-income countries.”
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz