Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Jéssica Lopes Ferreira Bertotti e Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza 168 pela urina 24h, 48h, até 72 horas depois que o trabalhador ou morador foi exposto. O fato dele sair rápido também não indica que ele é seguro. Nesse caminho pelo organismo ele pode ter alterado funções hepáticas, renais e hor- monais e ele sai do organismo, mas já alterou moléculas, já deixou seu efeito, muitas vezes irreversível. Neste cenário, como provar que um óbito teve como causa o consumo ou manuseio de agrotóxicos? Um dos fatores começa na própria notificação dos casos nos sistemas de informação de saúde, organizados e produzidos pelo próprio Mi- nistério da Saúde, que ajudariam a diagnosticar e enfrentar o problema. Bochner, coordenadora do SINITOX – Sistema Nacional de Informa- ções Tóxico-Farmacológicas, defende a transformação desses casos em eventos sentinelas. Ao lidar com óbitos decorrentes de intoxicações ocupacionais por agrotóxicos estamos na presença de eventos raros, dificilmente notificados, mas que apor- tam uma enormidade de significados e sentidos, mantendo atrás de si diversas outras vítimas (BOCHNER apud PORTELA; TOURINHO, 2016). Explica, ainda, que a análise dessas informações pode levar as autoridades governamentais a algumas ações positivas em prol da saúde do trabalhador e da população: As autoridades devem buscar o local da exposição e proceder com ações de vi- gilância, incluindo averiguação das condições de trabalho, verificação do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), inclusive suas trocas periódicas, aplicação de exames específicos de sangue para intoxicações por agrotóxicos, por exemplo. Bochner (apud PORTELA; TOURINHO, 2016) ainda comenta: Um dos casos que confirmam a importância da notificação foi a história de VMS, já contada na matéria que abre a série “Agrotóxicos: a história por trás dos números”. VMS era almoxarife de uma multinacional na comunidade de Cidade Alta, em Limoeiro do Norte (Chapada do Apodi – Ceará). E, após dois anos e meio trabalhando como auxiliar no preparo da solução de agrotóxicos para borrifo na lavoura de abacaxi, faleceu aos 31 anos. Em 2013, a Justiça reconheceu que a morte de VMS foi motivada “pelo am- biente ocupacional”, ou seja, pelo trabalho com os agrotóxicos. A ação movida pela família do trabalhador foi ganha em primeira e segunda instâncias na Jus- tiça do Ceará, e representa um marco histórico na luta contra o uso intensivo de agrotóxico, pois abre o precedente de se provar legalmente que a exposição a esses produtos, mesmo com “uso seguro” de EPIs, pode levar a morte. Segundo o advogado da demanda SILVA ( apud PORTELA, Graça; Tou- rinho, Raíza, 2016), esta foi “uma vitória não apenas para a autora da ação, mas uma sinalização positiva para milhares de trabalhadores e trabalhadoras submeti-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz