Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Agrotóxicos e o princípio da informação: avanços e retrocessos na relação de consumo 163 Faz-se, neste momento, uma análise importante que é relacionada à cres- cente desigualdade social a qual estamos expostos: a retirada dessa linguagem por imagem e assimilação pode levar à falsa impressão de que o perigo foi abrandado. Isso não faz sentido quando se fala de algum cidadão instruído, mas cidadãos do campo e com baixa escolaridade, por exemplo, podem ser muito prejudicados com essa forma de releitura dos rótulos. Para Bocuhy (2020), presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Am- biental (PROAM), o novo padrão não levou em conta os impactos do uso de agrotóxicos em médio e longo prazo para a população e o meio ambiente. Segun- do Bocuhy (2020), “ infelizmente podemos dizer que é uma regulamentação voltada para aquele que manuseia o agrotóxico, muito mais relacionada à segurança do tra- balho e muito menos protetiva no sentido de informar a sociedade do risco que está passando, digamos assim”. O novo padrão estabelecido é chamado de Sistema de Classificação Glo- balmente Unificado (Globally Harmonized System of Classification and Labeling of Chemicals – GHS , em inglês). ( PROAM, 2020). Endossado pela Organização das Nações Unidas (ONU), ele foi proposto pela primeira vez em 1992, na Eco 92. A partir de 2008, a comunidade europeia adotou esse padrão para classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e produtos. Além disso, 53 países já reali- zaram a implementação total e doze países a implementação parcial. Nesse momento, mais evidente ainda, percebe-se que as grandes corpo- rações econômicas nitidamente têm aumentado a variedade de agrotóxicos e, há dúvidas da dependência exacerbada de seus usos para a produção de alimentos no mundo. Trava-se aí o paradoxo central da discussão, dado que, pelo aumento da população mundial, aumenta-se a necessidade de alimentos e, pela dependência, o aumento do uso de inseticidas, pesticidas, etc. O ato de consumo nos induz não exatamente ao que precisamos, ou ao que causa menor impacto ao meio ambiente; diante disso e, perante o capitalismo, é necessário um novo desdobramento do modo de produção, ou seja, mais empre- sas com responsabilidade social. O uso de agrotóxicos está fundamentado no fato de que é um mal neces- sário, pois não seria possível abastecer o mercado mundial e erradicar a fome com produtos agrícolas, com quantidade e qualidade para atender a demanda mundial sem a aplicação destes; por outro lado, há a questão da segurança alimentar. Refuta-se aqui esse argumento relacionado à necessidade extrema de man- tença do uso com a escusa da fome mundial, afinal, como pesquisas recentes (HA- RARI, 2020) mostram, ainda há muita fome no mundo e em países subdesen- volvidos, mas hoje morrem mais pessoas de diabetes e sobrepeso do que de fome. Afinal, durante toda a sua existência, o homem teve que superar tragédias como fome, guerra e pestes para manter-se vivo. A fome dizimava populações inteiras, metade das pessoas na Terra podiam perecer a uma nova peste que matava rapi- damente; durante séculos nações viveram em pé de guerra e os momentos de paz mundial eram apenas pequenos intervalos entre um conflito e outro. Já no século XXI, esses “problemas” foram minimizados: as pessoas morrem atualmente mais de diabetes e obesidade que de fome; novas doenças são rapidamente isoladas e

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz