Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Os agrotóxicos na sociedade consumocentrista: a sustentabilidade necessária 147 cionar que houve muito estímulo por parte dos governos nas ações para forta- lecimento da indústria química vinculada às produções agrícolas. Desta forma, materializou-se a proposta de se alcançar um elevado padrão de produtividade agrícola através da fabricação e consumo de agrotóxicos, objetivando a mudança do perfil da agricultura. O tema dos agrotóxicos não se restringe ao consumismo exacerbado, ca- racterística da sociedade moderna, ou ao nobre desejo de saciar a fome no mun- do, trazido pela Revolução Verde, conforme já aventado. Percebe-se que o lucro obtido pelas grandes multinacionais da indústria química é fator de peso para o crescente uso das substâncias, pois é um mercado que envolve enormes interes- ses econômicos e segue em ascensão no Brasil. Sabe-se que a indústria já vende ao produtor um “combo” da semente + o herbicida, incentivando-o a utilizar o veneno de sua marca e tornando-se dependente durante toda a escala produtiva (LUTZENBERGER, 1998). Os agrotóxicos, apesar de serem capazes de combater algumas pragas, fi- zeram com que outras se fortalecessem e novas doenças surgissem, trazendo mais problemas de saúde pública e ambiental. Através do processo, conhecido como “modernização conservadora”, novas técnicas, como a utilização de insumos quí- micos, contribuíram para aumentar os níveis de produtividade, mas, por outro lado, também contribuíram para trazer problemas de saúde ao trabalhador do campo, causar significativas perdas ambientais e destruição de recursos naturais produtivos (FERRARI, 1985, p. 11). Ao analisar com cuidado o processo de modernização da agricultura, per- cebe-se que o aparente progresso conquistado com a utilização de tecnologias para o aumento da produção através da utilização de tais substâncias se contrapõe aos riscos por elas gerados à saúde dos seres humanos e todos os demais seres vivos do planeta. A evolução científica utilizada pelo ser humano no caminho da evolução ameaça a manutenção e qualidade de vida no planeta. Há uma preocupação tão grande em se aumentar a produção, sob a cegueira do consumo, que o modo de produção moderno tornou-se uma espécie de veneno para a vida na Terra. Lutzenberger (2001, p. 63) analisa a questão da insustentabilidade da agri- cultura moderna e considera que o homem se desconectou da lógica dos sistemas vivos naturais quando permitiu que a tecnologia invadisse e impedisse o desenvol- vimento da atividade biológica natural. Segundo o autor, nossos ecossistemas de agricultura, ao impor atividades químicas e mecânicas ao solo, degradam o meio ambiente e empobrecem a diversidade, precisando compensar essa degradação com fertilizantes comerciais. Contudo, tais substâncias comerciais também são provenientes do meio ambiente e estarão brevemente esgotadas, pois todos esses insumos, como agrotóxicos e cada vez mais pesada maquinaria, são grandes con- sumidores de energia e recursos naturais (LUTZENBERGER, 1998). Nessa seara, verifica-se que o uso intenso e muitas vezes indiscriminado de agroquímicos vem provocando incontáveis danos ambientais, alguns de caráter permanente, além de expor os trabalhadores rurais a intoxicações agudas ou crô- nicas, sendo muitos deles penalizados com o óbito, com o desenvolvimento de en- fermidades degenerativas, especialmente alguns tipos de câncer e enfermidades do

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