Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Gisele Boechel, Agostinho Oli Koppe Pereira e Cleide Calgaro 146 As substâncias químicas utilizadas no combate aos inimigos das lavouras também trouxeram efeitos colaterais para a saúde da sociedade e do meio ambien- te, efeitos esses que precisam ser contrabalanceados aos efeitos econômicos, numa visão que não seja puramente lucrativa. Do ponto de vista técnico da utilização intensa de agrotóxicos na produção agrícola moderna, Bezerra (2003, p. 40) ex- plica que, apesar do incremento considerável na produtividade vegetal, fruto da implementação das inovações do setor industrial agrícola, bem como das pesqui- sas realizadas nas áreas química e genética, foi constatada, sem demora, a deflagra- ção de um relevante aumento no número de pragas e doenças atentatórias às mais diversas lavouras. Vislumbrou-se, assim, um círculo vicioso na produção agrícola moderna, já que a utilização maciça de pesticidas desencadeava uma proliferação de novas pragas causadas pela resistência adquirida pelos seres agressores e tam- bém pelo desequilíbrio nas cadeias naturais, tendo em vista a necessidade de se implementar de forma cada vez mais agressiva novos e mais potentes agrotóxicos, que vinham a resultar no agravamento ainda maior dos desequilíbrios ecológicos anteriores, que favoreciam o surgimento de novas pragas. Segundo Ramos (2009, p. 216), a Revolução Verde é um paradigma do de- senvolvimento, pois criou doenças de solo, desertificação e quebra dos ciclos de ferti- lidade da terra em prol de uma agricultura que produzia apenas visando o mercado. A Revolução Verde destruiu sistemas agrícolas diversos adaptados a diferentes ecossistemas do planeta, globalizando a cultura e a economia de uma agricul- tura industrial. Eliminou milhares de culturas e variedades de culturas, substi- tuindo-as por monoculturas de arroz, trigo e milho através do terceiro mundo, foi fomento ao desenvolvimento rural assistido pelo capital estrangeiro e pla- nejado por especialistas estrangeiros. A Revolução Verde obteve um incremen- to de 30 a 40% na produção de alimentos na Ásia e América Latina. Tudo em nome de uma solução para a fome, ou seja, com o argumento de impedir que as pessoas não morram de fome, entretanto, acabem morrendo envenenadas (RAMOS, 2009, p. 216). O uso abusivo de agrotóxicos, na produção alimentícia mundial está for- temente ligado à obsessão da sociedade moderna de consumo pelo crescimento econômico e pelo lucro fácil, passando pelo mascaramento do risco existente nesse pseudoprogresso, embalado pela cultura dos produtos sintéticos, pela compensa- ção da falta de nutrientes por meio de sabores artificiais e pela conquista da satis- fação do consumidor através de intensa publicidade (FAGUNDEZ, 2012, p. 76), além, é claro, da enganosidade levada ao consumidor pela beleza dos alimentos cheios de agrotóxicos, altamente prejudiciais à saúde humana, como se verá, mais claramente, no próximo item. 2.1. O USO INDISCRIMINADO DE AGROTÓXICOS NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA Faz-se necessário analisar, neste momento do trabalho, os efeitos da Revo- lução Verde embalada sobre a difusão do uso de pesticidas. É importante men-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz