Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Os agrotóxicos na sociedade consumocentrista: a sustentabilidade necessária 145 Num primeiro momento, parecia ser o objetivo da necessidade de au- mento da produtividade o desejo de se exterminar a fome no mundo, que, se- gundo Rosa (1998, p. 19), tornava-se cada vez mais sério em várias partes do mundo, temendo o governo americano e grandes capitalistas que se tornasse elemento decisivo nas tensões sociais existentes em diversos países, o que pode- ria ampliar o número de nações sob regime comunista, principalmente na Ásia e América Central. Desta forma, todo o cenário mundial convergia no sentido de se impul- sionar a Revolução Verde: o pensamento modernista com forte viés capitalista; a evolução cada vez maior das tecnologias e maquinários; e o problema da fome. Foi assim que se efetivou, nas palavras de Bezerra (2003, p. 39), “a propagação mundial de um sistema de produção agrícola diferenciado” baseado, então, “na monocultura fundada na utilização intensiva de fertilizantes químicos subordina- da às sementes potencializadas, além do emprego sistemático de agrotóxicos para controle de pragas.” Era a ciência e a tecnologia trabalhando a fim de impulsionar a produção alimentícia em todo o mundo, movimentando a economia e resolven- do o problema da fome. Contudo, na prática, nem só benefícios a modernização trazida pela Re- volução Verde desencadeou na agricultura. Profundos impactos foram gerados ao meio ambiente e, consequentemente, à saúde humana, já que o homem sofre di- retamente esses impactos, pois, além de ser parte da natureza, se alimenta de seus produtos, respira o ar, bebe a água, sendo que todos estes elementos também so- freram modificações com o processo de modernização da agricultura. Além disso, há que se considerar também o aspecto social da questão, já que o modo de produção moderno é extremamente desigual e privilegia aqueles de maior poder econômico em detrimento dos pequenos produtores familiares. A implementação desenfreada de tecnologias com a promessa de aumentar a produ- tividade nas lavouras acabou por não considerar os seus impactos, tanto ao meio ambiente quanto à sociedade. O objetivo de aumento da produção de alimentos trouxe drásticas mudan- ças ao sistema agrícola até então vigente, inserindo novas tecnologias com vistas a produzir safras extensivas (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2018). Con- tudo, trouxe consigo o uso excessivo e sem critério de substâncias químicas: A adoção de agroquímicos no combate às pragas estava em consonância com um projeto científico, que objetivava desenvolver drogas mais eficazes. Contu- do, em um primeiro momento, não se conseguia mensurar os efeitos colaterais dos produtos empregados na lavoura. Há por detrás do projeto científico o combate aos inimigos da lavoura, como se vê no sistema repressivo a busca por se eliminar ou por se prender os inimigos da sociedade. A visão maniqueísta que move o mundo, especialmente ocidental, tem trazido sérias consequências para a saúde e para a vida em sociedade. A ciência não pode ter compromis- so apenas com o poder econômico, deve voltar-se para a preservação da vida. [...] A ciência deve ter, sobretudo, compromisso com a vida. Contudo, infeliz- mente, na sociedade política, a ciência está a serviço do capital (FAGUNDEZ, 2012, p. 87).

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