Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Gisele Boechel, Agostinho Oli Koppe Pereira e Cleide Calgaro 144 descarte. Grande parcela da população consome exageradamente nos países ditos desenvolvidos e, também, nos em desenvolvimento: consome-se roupas, celulares, eletrodomésticos, alimentos, etc., com o um único critério “consumir” em uma verdadeira apologia ao desperdício. De se ressaltar que, por outro lado, existe a parcela da população do planeta que não tem o que consumir, passando necessi- dades materiais, fome e sede. A este consumo exacerbado se pode atribuir muitas das causas da crise am- biental pela qual passa a sociedade moderna. Pois o estilo de vida contemporâneo, que tudo padroniza e tudo descarta, visando primordialmente o status e o lucro, não contabiliza os reflexos socioambientais que ocasiona. Desta forma, no próxi- mo item analisa-se o tema do consumo conectado com a agricultura. 2. A AGRICULTURA E OS AGROTÓXICOS NA SOCIEDADE DE CONSUMO O hiperconsumo na sociedade consumocentrista não se resume, como muitos imaginam, a consumo de bens de vestuário, joias, eletroeletrônicos, imó- veis, automóveis, eletrodomésticos e lazer, mas também os alimentos, que já estão listados como causadores de várias doenças – algumas pelo consumo exagerado – diabetes, colesterol, etc., outras – pela intoxicação por produtos químicos usados na agricultura – câncer, anencefalia, etc. Sabe-se que o modo de produção agrícola se alterou significativamente nos últimos anos, acarretando diversos impactos ambientais, sociais e econômi- cos. A agricultura moderna sofreu um notório crescimento em razão do constante processo de inovação a que vem sendo exposta, buscando maior produtividade, e parte desse “sucesso” se dá ao aparente progresso trazido pelas tecnologias que incrementam a produção agrícola. Máquinas potentes, grãos geneticamente modificados e intensa utilização de agrotóxicos, que objetivam prevenir e reduzir os efeitos adversos de pragas nas lavouras são exemplos dos mecanismos utilizados pelos produtores para competir no mercado do agronegócio. A este fenômeno chama-se Revolução Verde, pro- cesso que, entre os anos 60 e 70, alterou significativamente o perfil da agricultura mundial, modernizando-a através de conhecimentos técnicos e científicos para aumento da produção. Sobre o tema, importante trazer as considerações de Be- zerra (2003, p. 35): Apresentou destacada relevância, na história da agricultura contemporânea, a época demarcada pelo final da década de 1960 e início de 1970. Ocorre que esse período retratou o tempo de maiores avanços no que concerne ao desem- penho das atividades agrícolas sendo, todavia, que tal apreensão decorre da focalização no aumento da produtividade. O que se deu, em verdade, foi a substituição dos modelos de produção agrícola locais ou tradicionais por um padrão subordinado a um conjunto de inovações tecnológicas pautadas pelo incremento na mecanização nas lavouras, a adoção de variedades vegetais po- tencializadas e a utilização marcante de insumos de natureza química.

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